quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Por uma verdadeira humanidade




"Nunca existiu humanidade. Estamos fazendo os primeiros ensaios do que será a verdadeira humanidade."
Milton Santos, 2001

"A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classes."
Marx e Engels - Manifesto Comunista, 1848



A humanidade como comunidade de humanos nunca existiu, por isso não se pode dizer "história da humanidade", e sim história das lutas de classes. O verdadeiro sentido da humanidade é inexistente em nossa sociedade global capitalista e, sobretudo, inexistente em qualquer sociedade passada, pois a notória divisão das sociedade em classes econômicas e sociais tem como resultado inevitável uma segregação que tem uma lógica individualista - baseada nos interesses da classe que domina.


Desde a existência do Estado e do Direito - os pilares para fortalecer o modo de produção de uma civilização - a humanidade foi extinta. A dominação de uma classe através da apropriação material se deu sob uma ótica anti-coletiva e reprimiu aqueles que se tornavam subalternos pela exploração dessa classe. Um breve estudo das formações sociais revela o quão é perverso o sistema essencial de segregação do homem pelo homem e as suas respectivas lutas de classes, pois são geradas em razão de cada sistema, de cada formação social. A vitória da classe oprimida em cada formação social dá origem a uma síntese que repudia todas as formas de exploração de uma determinada formação social. As lutas entre o escravo e o seu senhor, entre o súdito e o seu monarca e entre o operário e o seu patrão burguês são reveladas pela história, sob uma perspectiva dialética, para a fundamentação de uma teoria de que não houve e não há humanidade.


As formações sociais se superam, comprovando a dialética história, mas a exploração e a ótica individualista de cada classe dominante permanece sob formas contextualizadas e, sobretudo, diferentes, que empurram a implementação da verdadeira humanidade para a formação social posterior. Milton Santos, ao analisar em várias de suas obras o processo de globalização capilista que se matura após a queda do Muro de Berlim em 1989, teoriza que a globalização é um processo de dominação global, em que o Estado social se definha em detrimento do Estado econômico que se alia com as multinacionais para estabelecer a perversa competitividade imperialista global. Com isso, para fortalecer essa aliança econômica, o consumo é o grande fundamentalismo da cultura midíatica para conduzir os países do terceiro mundo e suas massas populares a fomentar essa hegemonia, essa classe dominante global. O resultado é o extermínio das culturas populares, a satanização e criminalização dos movimentos sociais que servem de interjeição à lógica do capital e a não formação de um cidadão como sujeito de transformação social e sim a reprodução em massa de consumidores, que se alienam com os fetiches e privilégios que o capitalismo oferece a quem os contempla. Essa análise de Milton Santos permite entender como a ordem mundial hoje, propagandeada ideologicamente pela mídia e alicerçada num grupo dominante econômico, afasta o sentido de humanidade em escala global.



Hoje, a única possibilidade de formação da verdadeira humanidade calca-se na vitória da classe oprimida sobre a classe dominante. A formação social que se fundamenta desde o século XIX, composta pelo modo de produção capitalista, gera, como qualquer formação social já existente, a sua própria luta de classes: a luta entre a classe operária e a classe burguesa. Crer na vitória da classe operária através de revolução é a única saída humana do capitalismo para o sistema socialista, visto que a derrota do governo burguês, o fim da propriedade privada dos meios de produção e o extermínio da exploração de classe é a antítese da ordem dominante atual para a síntese de uma nova ordem, calcada no verdadeiro sentido da humanidade.