segunda-feira, 27 de abril de 2009

A mais valia do trabalhador





Nesta sexta-feira, dia 1 de maio, será o dia do trabalho e, por conseguinte, dia do trabalhador. Eu, particularmente, tenho muito apreço por esse dia - e bote apreço nisso. Lembro-me que meu apartamento foi arrombado e saqueado nesse bendito dia há uns anos, mas isso não é assunto merecido de escrita. O engraçado desse fato foi que o suposto saqueador era - ou ainda é - trabalhador e eu ainda continuo admirando o trabalhador e o seu dia.

Nem sempre o trabalho foi considerado importante e indispensável, como é atualmente, ao longo da história. Se pararmos para pesquisar, encontraremos diversas faces e visões do trabalho. Como diria Ademar - meu grande professor de Ciências Políticas -, o bom da História é este: "Ela está cheia de provas. Nela, encontramos a prática de quase tudo o que estudamos aqui sobre as ciências sociais." Um exemplo é a antiga civilização grega e o seu ócio criativo. Ficar filosofando, cultuando o própio corpo e comendo uvas eram tidas como atividades dignas. Já o trabalho manual, o trabalho escravo, eram tidas como atividaes não dignas, atividades que desmereciam e desmoralizavam o homem. O trabalho segundo os gregos, então, era não digno. É importante ressaltar que os gregos não faziam distinção entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, considerando somente o trabalho manual como sendo o trabalho genérico. Ou seja, desde a antiguidade clássica, o trabalho manual fora marginalizado. E, ao longo da história humana, outras faces do trabalho apareceram.

A Revolução Burguesa dos franceses demonstrou outra visão do trabalho. Os burgueses industriais franceses dependiam totalmente do trabalhador assalariado para operar suas máquinas de capital. Daí vem título de operário, junto com a Primeira Revolução Industrial. Na qual, o trabalho era o de operar as máquinas. O operário começava a ter importância para com a classe dominante. E, consequentemente, foi muito (mal) utilizado... A exploração do trabalho assalariado na Idade Moderna era basicamente ligada à industrialização. Operários trabalhando longa jornadas nas fábricas, homens, mulheres e crianças dormindo no meio das máquinas após a incessante labuta. Todos contribuindo para a prática do capital, mas não o capital para todos. Uma das pervesidades da burguesia e do capitalismo foi - e ainda é - a ilusão da liberdade. Sabe a famosa trindade da Revolução Francesa? Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Pois é. A liberdade proposta é a liberdade econômica, dentre ela a liberdade de consumo. Traduzindo para a linguagem capitalista: trabalhem, gastem comprando o que eu produzo, me enriqueçam e não se queixem de falta de liberdade.

A partir daí, o trabalhador foi sendo subsituído pelas máquinas e o seu emprego ficava cada vez menos estável e seguro. Sabendo da dependência que os industriais tinham pelo seu trabalho e pela importância do mesmo, começaram a se orgnizar e a formar sindicatos. Saiba que a união dos oprimidos sempre foi e sempre será mais coesa e verdadeira que a dos opressores. E junto a esse conexto, surgem Karl Marx e a sua ideologia socialista científica - acompanhado de Frederich Engels. Luta de classes. Dituadura do proletariado. Manifesto Comunista. Toda essa ideologia produzida e divulgada na época, gerou mudanças no pensamento operário. A formação dos sindicatos pela classe operária foi bastante acentuada nesse período de fim do século XIX.

O trabalho, por si só, foi valorizado. Mas, houve - e ainda há - discriminação com o trabalho manual. No Brasil, particularmente, existe a discriminação atual com o presidente Lula: "De torneiro mecânico passa a ser presidente! Como é que pode?" - diz o povo brasileiro. Só de sacanagem, portanto, vou retroagir. Vou pensar como na Grécia Antiga e vou considerar somente o trabalho manual como o trabalho total: Parabenizo e homenageio todos os trabalhadores (sendo eles manuais, iguais a operários) - esses sim merecem destaque no discurso, pois foram eles que construíram tudo o que nós, burgueses, fizemos. Dia 1 de maio é o dia do OPERÁRIO que, com sangue, suor e lágrimas, construiu toda a semiótica do trabalhador honesto e dignificou essa necessária ocupação.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Será que existe um jeitinho brasileiro?



O Brasil tem o seu caráter, o difícil é defini-lo. A formação da identidade de um país está estreitamente relacionada aos acontecimentos históricos, que envolvem todos os fenômenos sociais – economia, política, etc. O Brasil passou por inúmeras situações históricas, que contribuíram para a formação de sua identidade. Uma delas foi de extrema importância para a constituição do povo brasileiro: a colonização. Naquele período, negros, índios e europeus fizeram parte da população, o que a tornou miscigenada. É essa mistura de culturas, presente desde o início da nação, que torna complexa a definição do caráter brasileiro. Com as diversas etnias formadas, a sociedade brasileira foi se desenvolvendo... Com a formação de um Estado soberano, seja ele monarquia ou república. A população foi se espalhando pela grande extensão territorial do país confeccionando os seus laços, enraizando suas culturas e cultivando suas preces. O Brasil foi se estabelecendo como um complexo étnico-cultural.
Diante a essa complexidade, o fator econômico foi se destacando ao longo do tempo. Regiões eram classificadas economicamente de acordo com os seus recursos – sejam eles geográficos, políticos ou sociais. Hoje, podemos entender o motivo dessa fragmentação hierárquica do poder econômico dentre as regiões do país analisando os seus passados. A desigualdade econômica das regiões acentua-se de forma gradativa. Um exemplo disso é o estado de São Paulo, que se difere do resto do país desde a época do café e hoje é o grande centro econômico brasileiro. Há vários “Brasis” no Brasil. O Brasil do eixo Rio - São Paulo, o do nordeste, o do Sertão, o do sul, o do norte, o da Amazônia, o do centro – oeste, o do Pantanal, etc.
Outro fator que acentua a complexidade de definição do caráter brasileiro é o étnico. Cada região, cada canto, cada pedaço do país possui aspectos culturais divergentes e, até mesmo, antagônicos. Isso se deve à formação étnica da população regional, suas heranças culturais. O sul herdou um pouco mais da cultura européia, o nordeste herdou mais da cultura africana, e assim por diante. Todas as regiões, porém, herdaram, em proporções diferentes, aspectos culturais de todos os povos que constituíram o universo multi-étnico brasileiro.
A economia e a etnia foram citadas como divergências do povo brasileiro, as quais tornam complexa a definição de uma identidade nacional homogênea. Certos aspectos, porém, servem como auxiliadores nessa busca da identidade nacional. As convergências são, de fato, generalizadoras. Elas tornam comuns os hábitos e as preferências nacionais. O gosto pelo samba, a apreciação da cerveja e a fascinação pelo futebol são convergências nacionais. Ser um brasileiro genérico é compartilhar um pouco dessas culturas. São essas preferências superficiais que ensaiam traçar o caráter brasileiro, pois, na essência, é preciso mais igualdade no Brasil para tornar os fenômenos sociais menos divergentes e, assim, poder definir o real caráter brasileiro.