segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Marcelinho e o mundo dos ratos


É uma crônica. É engraçada. Ou não.

Ontem, a partir das 4:30 da tarde, o dia começou a ficar instável. Eu, Matheus e Argolo fomos esperar o buzú passar no ponto daqui da Paulo VI. Íamos encontrar com Luciano para depois assistir aos shows lá na Praça da Cruz Caída. Esperamos, ligamos para convidar Sheep – ele recusou, para variar – e, depois de meia hora, aparece um buzuzinho frio e caro – quatro reais - que ia para Barra. Com o receio de não aparecer outro buzú com o mesmo destino, pegamos o tal. Quando passamos pela catraca, surgiu o mesmo pensamento na cabeça dos três: e se vier agora o buzú normal, rei? Dito e feito. Não deu nem um minuto para o vermelho grandão da BTU ser avistado por nós. Pois é, tínhamos acabado de perder dois reais. Aproveitamos, porém, da cadeira acolchoada e do ar condicionado que os dois reais a mais nos proporcionaram.
Encontramos-nos com Luciano lá no Habib’s perto do shopping Barra. Matheus queria comer nessa porcaria. Ó que maravilha: domingo à tarde, ouvindo Calypso e vendo Faustão, fechados dentro do Habib’s. Entre esfihas e limões, não era nem a voz sufocada de Faustão que chamava atenção. Era o amontoado de ratos que estava reinando numa tela de quarenta e tantas polegadas em frente a nossa mesa. Que massa para o povo que estava comendo lá, né? Comendo e vendo ratos comendo, também. E nem para dizer que o pessoal da loja não se importou. O gerente – logo ele – passou pela frente da televisão e parou do lado da nossa mesa. Eu pensei que ele ia perguntar se aquela cena estava incomodando, ou, simplesmente, mudar de canal. Não que eu tenha pavor a ratos, mas estava ridícula a cena – e eu nem estava comendo. Pois é, demoraram alguns minutos para ele dizer fascinado: “Venha ver, fulano! O mundo dos ratos!”. Ai, ai. Senti uma raiva daquela frase. Queria jogar uma esfiha na cara dele, mas me contive. E ele e fulano ficaram lá observando o mundo dos ratos, paralisados. Eu também.
Entre ratos, esfihas e letras fantásticas do Calypso, Marcelinho não chegava. Ele tinha saído de buzú há quase uma hora do estúdio, onde estava ensaiando, para nos encontrar no Habib’s ou no shopping Barra. Ligamos oito vezes para o moicano e ele não atendia. O show estava passando e nada de Marcelinho aparecer. Mas, no limite da paciência, ele nos liga. Estava correndo no meio da rua para chegar ao shopping Barra. Quando, enfim, nos encontramos, queríamos bater nele. Mas aí eu pensei. O cara veio de um estúdio lá da Pituba para pegar uma carona e assistir ao show conosco. Sinceramente, é raça. Para nos movimentar sem carro (aqui é para transporte mesmo, ok?) nessa cidade violenta é complicado. Ainda mais para assistir aos shows alternativos, que cada vez acontecem mais longe de nossas casas. Agora quem diz sou eu: esse sim é o mundo dos ratos. E olhe que Marcelinho está parecendo com um rato, ao fazer esse penteado moicano.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Papai, me dá um carro?



Ave Maria! A quantidade de mini-adultos de minha idade querendo ganhar um carro do papai é gritante. Além de marcarem presença no meu ciclo de amigos, todo lugar que vou encontro um deles. Tem uns que desejam o carro para ter mais “liberdade” e não abusar os pais quanto aos pedidos de busca em plena madrugada. Mas, a maioria quer o carrinho para “facilitar” a conquista feminina.
Há, de fato, uma doente necessidade automobilística desses jovens para com os relacionamentos “amorosos”.
Veja só... Ganhar um carro para poder ir às boates na hora em que bem entenderem e, com isso, oferecerem carona às mulheres depois da festa para poderem dar o intitulado xeque-mate. Isso é desejo? Isso é vontade? Isso é necessidade? Que porra é essa? Vocês precisam de um carro para tal feito? Precisam deixar audível o ronco do motor para chamarem a atenção das mulheres?
Tá, tudo bem. Faço de conta que entendo essa necessidade. Mas, de vez em quando, penso no “tipo” de mulher que eles atraem. O carro, para os filhinhos de papai, não é um meio de transporte. É um meio de poder sobre certas mulheres. Que “tipo” de mulher é conduzida ao xeque mate só por causa do carrinho do rapaz? A futilidade feminina é párea à necessidade automobilística dos homens. Quantos mais surgem mini-adultos de carro, surgem mini-adultas de butuca nos carros.
Nossa sociedade é tão apegada a matérias que chega a dar vergonha. Não é possível entender a cabeça de um indivíduo que deseja um carro para atrair, beijar e transar – ou dar o xeque mate – com essas mulheres. Eu, particularmente, não entendo nossa sociedade.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Humanize-me!




Em pleno mês de novembro, faltando algumas semanas para a segunda fase da federal, Rambo faz um apelo a Argôlo. Estávamos assistindo à aula de Português e fazendo algumas questões de interpretação de texto quando Rambo exclama: “Argôlo, por favor, me humanize!”. Ele estava do meu lado e tinha acabado de errar a questão que ele demorou um tempinho para fazer e que, diga-se de passagem, ele fez resmungando. Dizia que não tinha a mínima vocação para fazer questões subjetivas de português e ainda mais aquelas que têm um cunho social de proteção aos oprimidos. E, para concluir, desabafou: “Eu não tenho a mínima paciência para pensar nessas coisas humanas e subjetivas, eu quero coisas exatas, óbvias!”
Argôlo, portanto, riu. Eu também. Porra... Querer humanizar um menino de 18 anos para a prova da federal, que é daqui a uma semana, é uma missão impossível e extremamente relativa. O que é humanizar? Argôlo é humanizado? Eu sou humanizado?
Nós sabemos o que significa, mas não conseguimos expressar o conceito certo. Uma coisa, porém, é certa – ou melhor, óbvia. Para fazer a redação e responder às questões de português da segunda fase da federal é necessária uma visão humanista. Mas, como nem todo vestibulando tem uma visão humanista e até mesmo nem sabe do que se trata, os professores “ensinam” essa visão na sala de aula. O professor de redação tem um papel fundamental, que é abrir nossas cabeças para pensar no ser humano. E, na verdade, o que acontece é que os alunos “aprendem”, na sala de aula, o que seria essa visão humanista do mundo, mas, não incorporam na vida. É um aprendizado bem efêmero, como o quase todo passado pelos professores durante este maravilhoso terceiro ano escolar.
Sim, a resposta de Argolo foi interessante. Ele respondeu aconselhando Rambo a escrever na prova tudo o que ele acha errado. Foi uma resposta bem grosseira e radical - para falar a verdade, Rambo não é esse crápula todo – mas, foi engraçada. Tirando todas as coisas que ele preconizada e pensa – desde a reencarnação de Robespierre e de Plínio Salgado até a aversão ao Estado Comum -, ele usou uma camisa de Che Guevara há uns dias atrás. Não estou julgando ele por isso, mas já é um avanço... Acho que Rambo um dia irá se humanizar, ou não.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Nada mais que uma piada...




Eu estou cheio de opções de texto para escrever, cheio de assuntos e temas. Mas não estou a fim. Só quero escrever esta piada que li num livrinho de piadas bobas na Saraiva:


O comandante exclama para o recruta:

-Você não veio à aula de camuflagem ontem, não foi?

O recruta retruca:

-Tem certeza, senhor?

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Liberdade a nós, vestibulandos!


Liberdade, loucura e sonho foi, sem dúvida, a nossa trindade no terceiro ano. Depois de um ano inteiro sendo entupidos por informações muitas vezes descartáveis, nós aproveitamos as discussões sobre as questões sociais e econômicas que vigoram na nossa sociedade e aprendemos a lidar com as situações de pressão através dos conselhos educadores. Isso é conhecimento, crescimento.
A importância do último ano colegial de nossas vidas, porém, não se resume às discussões pautadas na sala de aula, nos conselhos de vida dos professores e, muito menos, na pressão sufocante do vestibular. Durante este ano, um desejo de liberdade se apoderou em nossas mentes involuntariamente. O anseio de se tornar independente e amadurecer como pensador veio crescendo aos poucos em cada um de nós neste percurso. A paranóia de gravar fórmulas, estabelecer relações, estudar para as provas dos sábados e se contorcer para não perder nenhuma aula extra tornou-se, aos poucos, coadjuvante.
A protagonista da nossa história este ano foi, sem dúvida, a liberdade. Ela, que é preconizada em todas as revoluções e desejada por qualquer estudante do terceiro ano, está se tornando real para nós. A passagem do colégio para a universidade não representa a aparente mudança no horário das aulas, do uso da farda - ou não - e do status social, ainda mais se tratando da universidade federal. Nada disso... A essência dessa passagem é, de fato, a liberdade. Liberdade de escolha, liberdade de expressão, liberdade sexual... Liberdade.
Agora nós podemos trilhar o caminho que quisermos das nossas vidas! Agora é hora de tirar os olhos do quadro da sala de aula, da televisão, do livro, do computador e voltar para dentro de si. Só assim poderemos pensar para decidir qual será a nossa, não a dos outros, loucura durante os próximos anos – que não é uma tarefa fácil.
Para alcançá-la estamos todos os dias correndo perigo e sendo alvo de críticas e paradigmas da sociedade. É necessário estarmos enraizados em nossas bases e sonhar, sonhar grande. Sem o sonho, a loucura não se realiza e a liberdade não é alcançada.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Faculdade privada ou faculdade latrina?



Em mais um dia sentado junto de Luquinhas, Rambo e da conversa, saiu algo literário. Este texto foi escrito por Luquinhas:



"É um absurdo algo tão importante que é a educação, ficar nas mãos de pessoas despreparadas para passá-la a diante. Hoje vemos faculdades privadas que são verdadeiras privadas, ou latrinas, que possuímos em nossos lares. Essas privadas vêm, desde o primeiro passo que é o vestibular, errando. Não são todas, mas a grande maioria têm vestibular de 6 em 6 meses e com muita facilidade para passar, é só marcar o "x" que passa.
O Capitalismo fez com que a educação se transformasse em mais um mercado para o acúmulo de capital. Sabemos que a sociedade é feita de educação . A educação virou uma privada. Logo, a sociedade é, ou irá se transformar, numa privada?"


Ao ler isso, Rambo logo defendeu as faculdades empresariais privadas: "Elas têm o direito de estarem no mercado! Quem quiser que preste vestibular nelas, ora!" Sim, isso é lógico! Mas Luquinhas não estava julgando a existência delas, e sim a prova do vestibular! E sabe de quem é a culpa? Do Governo Federal! É... Pela pouca quantidade de verbas destinadas às faculdades federais, a quantidade de vagas é restrita e afunila mais e mais os candidatos. Isso faz com que os "perdedores" corram para as faculdades latrinas e entupam as mini-fábricas do conhecimento de dinheiro - muito dinheiro, diga-se de passagem. Ah se tivessem duas UFBAs...





domingo, 9 de novembro de 2008

A ampulheta nossa de cada dia




Eu tenho alguns traumas com relação ao tempo. Já tive, muitas vezes, que trabalhar a mente para me concentrar no agora. A dispersão, às vezes, impregna-se em mim e me deixa maluco. Começo a pensar demais, a me confundir demais e acabo me desgastando. A solução para isso não acontecer é a concentração. Pensar no agora e desfrutar do momento – seja ele qual for – é um ótimo exercício, no qual o presente é vivido intensamente e a vida se renova a cada segundo.
Estive pensando nisso há uns dias e resolvi escrever isso aqui. Garantir tranqüilidade é necessária muita concentração e isso as crianças têm em demasia. Observar um pássaro voando, uma reportagem na televisão e uma conversa entre pessoas, exigem concentração para absorver os seus conteúdos, e os mais velhos têm dificuldade com isso. E, portanto, a correria dos nossos dias impede o exercício da concentração em cada instante. Precisamos, também, abandonar os relógios digitais e até mesmo os analógicos. Temos que voltar aos primórdios e a usar a arcaica ampulheta. A areia que escorre lentamente dentro dela, deixa a impressão que o tempo passa muito devagar.
Eu usei da ampulheta para medir o tempo durante um ano, quer dizer, eu e mais uma pessoa. Embora a pressa que esse ano exigiu, nossos tempos juntos tornaram-se transmissões em câmera lenta. A ampulheta nossa de cada dia nos ajudou bastante e conservou cada grão de areia que escorreu nas nossas vidas. Ela me fez acreditar que o chavão “viva a vida intensamente” pode realmente acontecer, porém, não facilmente. Como já disse, é necessária muita concentração para viver olhando as horas na ampulheta e sentir um ano cronológico passar como se fossem dez anos.
Proponho, portanto, a todos utilizaram da ampulheta para contar o tempo que levam ao lado de uma pessoa pelo menos uma vez na vida. Fazer isso é como se os desejos se realizassem a cada instante e o dia se tornasse presente e futuro. A concentração nos grãos de areia que escorrem na ampulheta me fez abrir a mente para perceber que o pulso ainda pulsa.



terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mais que lícita!



A cerveja tem um vínculo muito afetivo com os brasileiros. Ela é nossa amiga. Quando ganhamos, perdemos ou nem um nem outro, a cerveja desce redondo goela abaixo. Na comemoração de qualquer vitória e na tristeza de qualquer derrota, a presença da loura é imprescindível e quando ela não aparece, ou a sua apreciação é dificultada, o circo pega fogo.
Há dois dias fui à festa da formatura de minha namorada e a bebida alcoólica era paga e, de fato, era proibida a venda para menores de 18 anos. Ouvi reclamações tanto das pessoas que iam se formar quanto das que só souberam do absurdo. Sim, eu também reclamei – e também sou brasileiro. Não vejo razão para, nessa altura do campeonato, proibirem dos menores a cerveja, a vodka e derivados numa festa de formatura do 3° ano colegial. Mas a questão aqui é que bebida é pra quem sabe beber!
Nos ambientes festivos – nos quais os shows infelizmente são a maioria – de Salvador, por exemplo, é comum encontramos marmanjos bobalhões que se embriagam e acabam por estragar a festa, ou o show. A razão formal pela qual eles bebem é única: trazer felicidade - ou não. Ora, a felicidade dos imbecis que não sabem beber é acabar com a noite dos outros através da violência. O que tem de briga causada pelo efeito do álcool não é brincadeira, porém, a bebida não é a culpada. A culpa é de quem não sabe beber e por causa deles, festas de formatura são obrigadas a controlar a bebida! E pior, a briga geralmente é por causa de mulher. Falo pior porque a mulher é quem, geralmente, sente-se culpada pela briga e defende o namorado animal que brigou por causa dela, mesmo ela discordando-o.
Retomando a razão formal da bebida e sendo breve na argumentação, declaro que o brasileiro realmente precisa da cerveja para ser feliz. É inerente do nosso povo fechar os olhos, ouvidos e boca diante dos problemas. “Tomar uma no bar para esquecer dos problemas” representa um descaso com as relações sociais. Numa sociedade desestruturada como a nossa é comum utilizarmos de métodos para fugir da realidade, ou melhor, tapar o sol com a peneira.


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Como sair de uma enrascada no Brasil... Ou não.


Atenção, este texto é somente uma proposta, ou melhor, uma hipótese! Ou até mesmo uma tautologia.

Após ter assistido à aula de lógica ontem, proponho a nós, brasileiros, usarmos mais uma expressão malandra no cotidiano. Ontem aprendi que a expressão “ou não” no final de uma frase anula todo o sentido dela. Ou seja, qualquer maluquice que você inventar e depois disser a “ou não” no fim da frase, sua proposição não tem sentindo e é redundante, porém ela é verdadeira. Bom, isso é lógico! Se eu disser a frase “Vou ganhar na Mega Sena ou não”, estou certo. Posso um dia ganhar ou não, entende? Ah, se não entendeu... Paciência. Não caibo eu, um leigo na área de exatas, explicar matemática para vocês, mesmo o nome do assunto sendo “lógica” – que, cá para nós, tem algumas coisas que não têm lógica.
A questão é que eu andei pensando durante essas mais de 24 horas sobre o assunto e constatei que a expressão “ou não” deve ser incorporada no vocabulário dos brasileiros, especialmente no dos políticos mentirosos, jornalistas histéricos e cartomantes videntes. Só assim a malandragem brasileira terá uma justificava plausível e matemática (que chique, hein?) para todos os impropérios que são ditos. Imagine só os discursos políticos como iam ser! E as reportagens? E quanto às explicações das cartomantes? A “ou não” iria marcar presença em, pelo menos, quase todas as frases dos políticos, linhas das reportagens jornalísticas e falas das videntes.
Não estou escrevendo para julgar, de forma alguma, a competência de nenhum político, jornalista ou cartomante, eles foram somente exemplos. Pelo contrário, estou aqui para, de certa forma, ajudá-los no dia-a-dia. E como já disse, não somente eles como todos os brasileiros irão ser beneficiados com o uso da expressão “ou não”, observe:
Uma adolescente de 15 anos diz para o namorado de 17 anos: “Amor, minha menstruação anda meio atrasada e, sei lá, posso estar grávida ou não.” Imagine o desespero do namorado ao ouvir essa frase aos 17 anos. Mas, se tivesse incorporado no seu vocabulário a “ou não”, não haveria esse desespero. Tudo pode acontecer... A namorada pode ficar grávida ou não, João Henrique pode finalizar a obra do metrô ou não, a crise mundial pode vir a afetar diretamente o Brasil ou não, a previsão de casamento feita pela cartomante pode se realizar ou não e o aumento salarial dos professores também pode ocorrer ou não.
É melhor, então, contudo, portanto, todavia, nós começarmos a nos acostumar com a onda da “ou não”. Se essa onda pegar, não haverá mal entendidos e, quanto menos, cobranças. Afinal de contas, que promessas são cumpridas no Brasil, o país do meio-termo e da teoria? Creio que, se essa onda pegar, os que ainda cobram e contestam gastarão menos da garganta e da paciência, pois, oficialmente, a incerteza será explicitada na fala dos brasileiros... Ou não. Vai saber...


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Que é o medo?



Tenho passado por vários momentos de fraqueza durante estas últimas semanas que antecedem o vestibular. A questão de como eu vou trilhar minha vida daqui há uns anos me contorce e a pressão da sociedade capitalista de cobrar comportamentos regrados de nós, futuros profissionais, me entristece. Minha mãe, funcionária pública do Tribunal Regional do Trabalho, me contou uma história há poucos dias que me comoveu.
Um ex-trabalhador negro rastafári foi ao Tribunal Regional do Trabalho resolver algum rolo trabalhista, no qual eu não me lembro, e minha mãe o atendeu. Durante o atendimento, ela o perguntou se era difícil arranjar emprego com tamanha cabeleira cheia de “dreadlocks” e ele respondeu que tinha acabado de ser demitido de uma empresa – na qual trabalhava como servente – por ter tirado a boina durante a labuta. Contou que sempre usava a boina – daquelas com as cores da Jamaica – durante o expediente. Depois de anos de trabalho ele resolveu tirá-la e, no mesmo dia, foi demitido. Em seguida, contou à minha mãe, revoltado, que não concordou com a atitude da empresa em demiti-lo e sorriu ao dizer que o que ele gosta mesmo é de tocar, de tocar reggae. Disse que quando está tocando adquire uma proteção contra os males e nada o atinge.
Ao ouvir essa história, senti empatia. Coloquei-me no lugar desse rapaz e senti a rejeição sofrida por ele. É, pode até ser pelo fato de eu tocar também, mas eu não sou negro, nem rastafári e nunca trabalhei como servente na vida. Acho que senti empatia pela sensibilidade que adquiri neste pouco tempo de vida, que me abriu a cabeça e me fez perceber que o mundo é comandado. E pior: é comandado por poucos! São eles que ditam as regras, estabelecem decretos, firmam acordos, casam-se com as mulheres mais requisitadas e ganham mais. São eles também que burlam as regras, desviam verbas, agridem mulheres e matam por dinheiro.
Às vezes fico pensando no trilho de pessoas como o rastafári, um trilho já traçado, premeditado, sem nenhuma escolha. E, de imediato, comparo com o qual irei seguir e constato que não há muita diferença quanto à escolha. Será que, se eu seguir os padrões sociais, serei alguém que irá comandar? Será que irei contribuir para o ciclo natural do capitalismo? Será que estarei no lugar da pessoa que o demitiu? É esse o trilho que a minha classe social segue. Não quero isso para mim, não quero arrancar o pouco dinheiro que um servente ganha por questões de estética. Parece ser meio estranho um jovem de 17 anos, estudante de colégio privado que cobra mais de 1.000 reais ao mês na mensalidade, pensar desse jeito. Parece querer mudar o rumo natural das coisas, parece estar nadando contra a correnteza. Quero mudar este cenário no qual vivemos. Não quero apenas estar protegido dos males enquanto estiver tocando!



ps.: Eu sinto medo em relação ao meu futuro, sinto medo de me tornar um monstro adestrado pelos tentáculos do capitalismo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Retirantes por 4 dias




Na véspera do feriado da Semana Santa, a aula de física não podia demorar nem mais um segundo. Estava com uma ânsia para sair correndo do colégio, chegar em casa, tomar um banho, pegar a mochila e me mandar para a rodoviária. Eu, Ló, Marcelinho, Dhara, Catatau, Talula, Macaulin e Simone íamos viajar para a Chapada Diamantina – especificamente para o Vale do Capão. Foi um alívio quando a aula terminou – que por sinal não rendeu nada. Quando cheguei à rodoviária, o espírito expansionista instalou-se em mim. Estava pronto para abandonar o agito da cidade e repousar tranqüilo no Capão – lugar que até então era desconhecido para mim.
A viagem rodoviária foi cansativa, mas recebi beijos e palavras carinhosas de minha namorada durante as 8 horas de trajeto. Estávamos curtindo cada parada do ônibus, cada buraco na estrada, cada paisagem linda e cada desejo de liberdade. Ficamos grudados a viagem inteira até o buzú parar em Palmeiras para pegarmos uma caminhonete e chegarmos ao Vale. Às 11 da noite, atracamos no camping debaixo de chuva e tentamos armar as barracas num breu total, quer dizer, tínhamos duas lanternas com o alcance de 30 centímetros... Chega! Isto aqui está parecendo a carta de Pero Váz Caminha quanto aos detalhes típicos de um diário de bordo. Não vou mais narrar as mínimas coisas da viagem, vou relatar a grandeza e a sorte de estar num lugar tão bonito com pessoas queridas.
Acordar no chão da barraca e olhar para a rocha imensa encoberta de neblina, que estava em minha frente, foi ter acreditado na paz que está ausente nas relações urbanas. Elas destroem a nossa tranqüilidade e nos faz vítimas da rapidez mórbida na qual estamos acostumados. Eu parecia estar dormente no meio de tanta paz! Ah... Mergulhar nas águas geladas das cachoeiras foi maravilhoso. Além de amaciar a pele e o cabelo, elas amaciam o corpo e a alma.
Os indivíduos que viajaram comigo também me amaciaram bastante. Retirar-se da cidade por 4 dias a fim de extirpar a cobrança mesquinha do 3° ano com amigos e amigas foi, sem dúvida, dar crédito à minha liberdade. Às vezes o nosso ego dita as normas de conduta quanto à responsabilidade e ao compromisso com os estudos escolares. Às vezes temos que ultrapassar o nosso ego e fugir, de mente aberta, para o desconhecido!



sábado, 25 de outubro de 2008

Forte Apache e o Destino Manifesto




A verdade é que o proibido só se expressa com a mentira. Ou seja, tudo o que é ilícito torna-se lícito através de uma justificativa esfarrapada. Esta semana mesmo, ao chegar atrasado no colégio e no meio da aula de matemática, inventei uma desculpa nada a ver. Disse à coordenadora que tive uma crise de asma ao acordar e minha mãe me levou ao médico para averiguar meus pulmões e blá blá blá. Ainda tive que justificar o meu cabelo molhado atestando ter passado em casa para tomar um banho depois do médico e, enfim, chegar ao colégio. Fiz esse chilique todo só para não perder a aula de geometria analítica porque cai na UFBA, né? Pois é! Está aí o ponto aonde queria chegar: interesses. Queria muito assistir à aula de matemática e para isso tive que atuar e dissimular em frente à coordenadora. Isso também aconteceu com os EUA no século XIX, só que de maneira violenta e covarde.
Naquele século, os EUA e os países europeus estavam na onda imperialista buscando territórios para conquistar e usufruir. Os territórios africanos e asiáticos já estavam ocupados e restavam apenas os da América Latina. Os EUA careciam de territórios para explorar, careciam de um país pobre para dominar e sugar todas as suas riquezas. A Doutrina Monroe, portanto, é criada para dar o direito único e exclusivo dos EUA em intervir na América com o lema: “América para os americanos!”. É necessário perceber que essa doutrina protecionista impedia os países europeus de concorrerem com os EUA na dominação da América Latina. Pronto, agora só resta a desculpa esfarrapada.
O Destino Manifesto foi criado com o seguinte conceito: justificar a dominação exclusiva dos EUA na América Latina através da ordem divina. Sim, a terra do Tio Sam estava autorizada, por ordem de Cristo, a sugar o sangue dos países latinos, sendo a única escolhida pelo Senhor. É ou não é uma desculpa esfarrapada?!
Um dos países a sofrer o efeito do Destino Manifesto foi o México. Durante a Guerra do México, milhares de índios foram exterminados para estabelecer a ordem e atingir o progresso. A luta dos cowboys caras-pálida e índios caras-pintada foi covarde. Os índios foram devastados por armas de fogo enquanto se defendiam com o arco e a flecha. O forte apache, meu divertimento quando criança, é a representação dessa luta. Quando brincava, sempre massacrei os caras-pálida e tive pena dos caras-pintada. Mas, infelizmente, os EUA não tiveram pena deles e tocaram fogo!





Rambespierre, seu escroto!




Hoje no colégio sentamos eu, Luquinhas e Rambo no fundão da sala durante a aula de física – que por sinal estava em Código Morse – e, portanto, começamos a conversar. Papo vai, papo vem e os dois começaram a discutir sobre as eleições – Rambo 15, Luquinhas 13. Fiquei escutando a dialética dos dois e pedi para que eles escrevessem algo sobre a eleição de domingo. Saiu isto:

“Lídice minha anta!

Uma pinta na cabeça e Jaques Wagner por trás.
Você já governou; não quero mais, não quero mais!”

“Eu queria era votar em Plínio Salgado!”

“Fazendo a revolução em Salvador. Robespierre, a França me chamou.”

“João do coração quer ser João do pé de feijão. Chegar na terra dos gigantes e torna-se um deles. Mas quem foram os gigantes? ACM, FHC, Collor, Vargas... Será que devemos ajudar a plantar esse feijão?”

O poeminha sobre Lídice, a frase declarativa sobre Plínio Salgado e a rima ridícula envolvendo Robespierre foram escritas por Rambo. Já o outro poeminha sobre João do coração foi escrito por Luquinhas. Não tenho muito o que discordar do texto dele, apesar de ter sido feito na brincadeira. Acho que João quer roubar mais para atingir a conta bancária dos gingantes mesmo, mas isso não vem ao caso. O que chamou mesmo minha atenção foram os textos de Rambo. Tudo bem com relação à anta dele, é a sua opinião política.
Agora querer ressuscitar Plínio Salgado e Robespierre nas eleições de Salvador é o fim da picada!
Plínio Salgado, que foi um integralista que apoiou o Estado Novo de Vargas – isso inclui a Constituição Polaca – e foi acusado de facismo por Glauber Rocha, não deve receber apologias em pleno ano de 2008. Querer que ele assumisse a prefeitura de uma cidade leiga na política como Salvador, é querer destruir toda a nossa luta por uma sociedade mais justa e igualitária. É querer a morte de Salvador!
Quanto a Robespierre, eu dei foi risada pelo fato de ele ter votado num candidato a vereador com o mesmo nome do infeliz. É sério, Rambo votou em “Robespierre” para vereador! Ele disse que votou porque o dito cujo era amigo do seu padastro, mas isso não vem ao caso. O que me afligiu foi ele querer ressuscitar outro nome inútil da história! É, nesse caso ele foi resgatar a figura lá no final do século XVIII, quando Robespierre tornou-se o primeiro representante dos jacobinos na Revolução Francesa. Sim, ele apoiou e compactuou com a Revolução Francesa. Mas adivinha o que a anta (risos) fez: mandou matar seus opositores políticos, os girondinos, e levou junto os jacobinos e revolucionários, seus companheiros, para debaixo da terra! Acho que ele tinha problemas de identificação, só pode. Só podia ter sido morto enforcado mesmo...
Será que o “Robespierre” brasileiro também seria assim, caso fosse eleito? Que nem o xará defunto? Você quer trazer as desgraças do passado para o presente da nossa cidade, Rambo?! EscrÔto...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Onde está o Rock?




Eu realmente não entendo a postura dos intitulados “rock stars” que tocam um pop comercial de lixo no Brasil. O gênero do rock e a atitude rock – que são coisas distintas – estão sendo recorridas por bandas brasileiras mixurucas desde o começo do novo milênio a fim de serem iluminadas pelos holofotes da mídia teen. O fato é que elas não tocam rock e nem tem atitude rock.
A coisa mais patética de ouvir nas entrevistas feitas a “rock stars” nos programas de tevê que pensam em falar sobre música é ouvir dos tais que tocam rock. Uma vez eu vi uma entrevista pós-show da banda KLB no Multishow, e um dos três patetas disse que estava muito feliz e radiante após ter tocado rock and roll a noite inteira. De imediato, supus que eles tocaram Hotel Califórnia dos Eagles no final do show, pois uma vez os vi tocarem (muito mal, por sinal) a música num programa fútil da MTV.
O apelo pelo gênero está sendo feito pelas gravadoras que, ao observarem a resposta do público teen a bandas como KLB e LS Jack, massificam o ouvido da adolescência enquanto destroem a imagem do rock ao contratarem bandas como essas. Imagino como os pais de fãs histéricas(os) enxergam o “rock” feito pelas bandas do momento: filhinhos de papai enfeitadinhos com calças rasgadas, camisas estampadas do título Woodstock e cabelos com penteados radicais tocando e cantando músicas monofônicas com letras bobas e moldadas para atingir e ensurdecer o ouvido de seus filhos. Senhores pais, tenho uma notícia boa: o rock não é isso que toca nos shows onde seus filhos vão! O rock é algo bem maior e de melhor qualidade. Os senhores devem se lembrar dos tempos de colégio ou de faculdade nos quais ouviam “Bete Balanço” nas pistas de dança e “Balada do Louco” nas tardes trancados dentro de seus quartos. Aí poderão se lembrar o que é o rock brasileiro e constatar que o “rock” tocado por algumas bandas brasileiras é uma farsa.
Outra coisa, também patética, é assistir aos shows dessas bandas. A postura dissimulada sobre os palcos é, para qualquer roqueiro, motivo de chacota e gargalhadas. A atitude rock and roll forçada e idealizada - com direito a gritos, chegando a exaltar todas as veias do pescoço, e guitarras quebradas no final do show – me dá nojo. É por isso que sinto orgulho em assistir, nem que seja pela televisão, aos shows de bandas e artistas roqueiros como Legião Urbana, Raul Seixas, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Cazuza, Cássia Eller e Os Mutantes.