sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Como sair de uma enrascada no Brasil... Ou não.


Atenção, este texto é somente uma proposta, ou melhor, uma hipótese! Ou até mesmo uma tautologia.

Após ter assistido à aula de lógica ontem, proponho a nós, brasileiros, usarmos mais uma expressão malandra no cotidiano. Ontem aprendi que a expressão “ou não” no final de uma frase anula todo o sentido dela. Ou seja, qualquer maluquice que você inventar e depois disser a “ou não” no fim da frase, sua proposição não tem sentindo e é redundante, porém ela é verdadeira. Bom, isso é lógico! Se eu disser a frase “Vou ganhar na Mega Sena ou não”, estou certo. Posso um dia ganhar ou não, entende? Ah, se não entendeu... Paciência. Não caibo eu, um leigo na área de exatas, explicar matemática para vocês, mesmo o nome do assunto sendo “lógica” – que, cá para nós, tem algumas coisas que não têm lógica.
A questão é que eu andei pensando durante essas mais de 24 horas sobre o assunto e constatei que a expressão “ou não” deve ser incorporada no vocabulário dos brasileiros, especialmente no dos políticos mentirosos, jornalistas histéricos e cartomantes videntes. Só assim a malandragem brasileira terá uma justificava plausível e matemática (que chique, hein?) para todos os impropérios que são ditos. Imagine só os discursos políticos como iam ser! E as reportagens? E quanto às explicações das cartomantes? A “ou não” iria marcar presença em, pelo menos, quase todas as frases dos políticos, linhas das reportagens jornalísticas e falas das videntes.
Não estou escrevendo para julgar, de forma alguma, a competência de nenhum político, jornalista ou cartomante, eles foram somente exemplos. Pelo contrário, estou aqui para, de certa forma, ajudá-los no dia-a-dia. E como já disse, não somente eles como todos os brasileiros irão ser beneficiados com o uso da expressão “ou não”, observe:
Uma adolescente de 15 anos diz para o namorado de 17 anos: “Amor, minha menstruação anda meio atrasada e, sei lá, posso estar grávida ou não.” Imagine o desespero do namorado ao ouvir essa frase aos 17 anos. Mas, se tivesse incorporado no seu vocabulário a “ou não”, não haveria esse desespero. Tudo pode acontecer... A namorada pode ficar grávida ou não, João Henrique pode finalizar a obra do metrô ou não, a crise mundial pode vir a afetar diretamente o Brasil ou não, a previsão de casamento feita pela cartomante pode se realizar ou não e o aumento salarial dos professores também pode ocorrer ou não.
É melhor, então, contudo, portanto, todavia, nós começarmos a nos acostumar com a onda da “ou não”. Se essa onda pegar, não haverá mal entendidos e, quanto menos, cobranças. Afinal de contas, que promessas são cumpridas no Brasil, o país do meio-termo e da teoria? Creio que, se essa onda pegar, os que ainda cobram e contestam gastarão menos da garganta e da paciência, pois, oficialmente, a incerteza será explicitada na fala dos brasileiros... Ou não. Vai saber...


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Que é o medo?



Tenho passado por vários momentos de fraqueza durante estas últimas semanas que antecedem o vestibular. A questão de como eu vou trilhar minha vida daqui há uns anos me contorce e a pressão da sociedade capitalista de cobrar comportamentos regrados de nós, futuros profissionais, me entristece. Minha mãe, funcionária pública do Tribunal Regional do Trabalho, me contou uma história há poucos dias que me comoveu.
Um ex-trabalhador negro rastafári foi ao Tribunal Regional do Trabalho resolver algum rolo trabalhista, no qual eu não me lembro, e minha mãe o atendeu. Durante o atendimento, ela o perguntou se era difícil arranjar emprego com tamanha cabeleira cheia de “dreadlocks” e ele respondeu que tinha acabado de ser demitido de uma empresa – na qual trabalhava como servente – por ter tirado a boina durante a labuta. Contou que sempre usava a boina – daquelas com as cores da Jamaica – durante o expediente. Depois de anos de trabalho ele resolveu tirá-la e, no mesmo dia, foi demitido. Em seguida, contou à minha mãe, revoltado, que não concordou com a atitude da empresa em demiti-lo e sorriu ao dizer que o que ele gosta mesmo é de tocar, de tocar reggae. Disse que quando está tocando adquire uma proteção contra os males e nada o atinge.
Ao ouvir essa história, senti empatia. Coloquei-me no lugar desse rapaz e senti a rejeição sofrida por ele. É, pode até ser pelo fato de eu tocar também, mas eu não sou negro, nem rastafári e nunca trabalhei como servente na vida. Acho que senti empatia pela sensibilidade que adquiri neste pouco tempo de vida, que me abriu a cabeça e me fez perceber que o mundo é comandado. E pior: é comandado por poucos! São eles que ditam as regras, estabelecem decretos, firmam acordos, casam-se com as mulheres mais requisitadas e ganham mais. São eles também que burlam as regras, desviam verbas, agridem mulheres e matam por dinheiro.
Às vezes fico pensando no trilho de pessoas como o rastafári, um trilho já traçado, premeditado, sem nenhuma escolha. E, de imediato, comparo com o qual irei seguir e constato que não há muita diferença quanto à escolha. Será que, se eu seguir os padrões sociais, serei alguém que irá comandar? Será que irei contribuir para o ciclo natural do capitalismo? Será que estarei no lugar da pessoa que o demitiu? É esse o trilho que a minha classe social segue. Não quero isso para mim, não quero arrancar o pouco dinheiro que um servente ganha por questões de estética. Parece ser meio estranho um jovem de 17 anos, estudante de colégio privado que cobra mais de 1.000 reais ao mês na mensalidade, pensar desse jeito. Parece querer mudar o rumo natural das coisas, parece estar nadando contra a correnteza. Quero mudar este cenário no qual vivemos. Não quero apenas estar protegido dos males enquanto estiver tocando!



ps.: Eu sinto medo em relação ao meu futuro, sinto medo de me tornar um monstro adestrado pelos tentáculos do capitalismo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Retirantes por 4 dias




Na véspera do feriado da Semana Santa, a aula de física não podia demorar nem mais um segundo. Estava com uma ânsia para sair correndo do colégio, chegar em casa, tomar um banho, pegar a mochila e me mandar para a rodoviária. Eu, Ló, Marcelinho, Dhara, Catatau, Talula, Macaulin e Simone íamos viajar para a Chapada Diamantina – especificamente para o Vale do Capão. Foi um alívio quando a aula terminou – que por sinal não rendeu nada. Quando cheguei à rodoviária, o espírito expansionista instalou-se em mim. Estava pronto para abandonar o agito da cidade e repousar tranqüilo no Capão – lugar que até então era desconhecido para mim.
A viagem rodoviária foi cansativa, mas recebi beijos e palavras carinhosas de minha namorada durante as 8 horas de trajeto. Estávamos curtindo cada parada do ônibus, cada buraco na estrada, cada paisagem linda e cada desejo de liberdade. Ficamos grudados a viagem inteira até o buzú parar em Palmeiras para pegarmos uma caminhonete e chegarmos ao Vale. Às 11 da noite, atracamos no camping debaixo de chuva e tentamos armar as barracas num breu total, quer dizer, tínhamos duas lanternas com o alcance de 30 centímetros... Chega! Isto aqui está parecendo a carta de Pero Váz Caminha quanto aos detalhes típicos de um diário de bordo. Não vou mais narrar as mínimas coisas da viagem, vou relatar a grandeza e a sorte de estar num lugar tão bonito com pessoas queridas.
Acordar no chão da barraca e olhar para a rocha imensa encoberta de neblina, que estava em minha frente, foi ter acreditado na paz que está ausente nas relações urbanas. Elas destroem a nossa tranqüilidade e nos faz vítimas da rapidez mórbida na qual estamos acostumados. Eu parecia estar dormente no meio de tanta paz! Ah... Mergulhar nas águas geladas das cachoeiras foi maravilhoso. Além de amaciar a pele e o cabelo, elas amaciam o corpo e a alma.
Os indivíduos que viajaram comigo também me amaciaram bastante. Retirar-se da cidade por 4 dias a fim de extirpar a cobrança mesquinha do 3° ano com amigos e amigas foi, sem dúvida, dar crédito à minha liberdade. Às vezes o nosso ego dita as normas de conduta quanto à responsabilidade e ao compromisso com os estudos escolares. Às vezes temos que ultrapassar o nosso ego e fugir, de mente aberta, para o desconhecido!



sábado, 25 de outubro de 2008

Forte Apache e o Destino Manifesto




A verdade é que o proibido só se expressa com a mentira. Ou seja, tudo o que é ilícito torna-se lícito através de uma justificativa esfarrapada. Esta semana mesmo, ao chegar atrasado no colégio e no meio da aula de matemática, inventei uma desculpa nada a ver. Disse à coordenadora que tive uma crise de asma ao acordar e minha mãe me levou ao médico para averiguar meus pulmões e blá blá blá. Ainda tive que justificar o meu cabelo molhado atestando ter passado em casa para tomar um banho depois do médico e, enfim, chegar ao colégio. Fiz esse chilique todo só para não perder a aula de geometria analítica porque cai na UFBA, né? Pois é! Está aí o ponto aonde queria chegar: interesses. Queria muito assistir à aula de matemática e para isso tive que atuar e dissimular em frente à coordenadora. Isso também aconteceu com os EUA no século XIX, só que de maneira violenta e covarde.
Naquele século, os EUA e os países europeus estavam na onda imperialista buscando territórios para conquistar e usufruir. Os territórios africanos e asiáticos já estavam ocupados e restavam apenas os da América Latina. Os EUA careciam de territórios para explorar, careciam de um país pobre para dominar e sugar todas as suas riquezas. A Doutrina Monroe, portanto, é criada para dar o direito único e exclusivo dos EUA em intervir na América com o lema: “América para os americanos!”. É necessário perceber que essa doutrina protecionista impedia os países europeus de concorrerem com os EUA na dominação da América Latina. Pronto, agora só resta a desculpa esfarrapada.
O Destino Manifesto foi criado com o seguinte conceito: justificar a dominação exclusiva dos EUA na América Latina através da ordem divina. Sim, a terra do Tio Sam estava autorizada, por ordem de Cristo, a sugar o sangue dos países latinos, sendo a única escolhida pelo Senhor. É ou não é uma desculpa esfarrapada?!
Um dos países a sofrer o efeito do Destino Manifesto foi o México. Durante a Guerra do México, milhares de índios foram exterminados para estabelecer a ordem e atingir o progresso. A luta dos cowboys caras-pálida e índios caras-pintada foi covarde. Os índios foram devastados por armas de fogo enquanto se defendiam com o arco e a flecha. O forte apache, meu divertimento quando criança, é a representação dessa luta. Quando brincava, sempre massacrei os caras-pálida e tive pena dos caras-pintada. Mas, infelizmente, os EUA não tiveram pena deles e tocaram fogo!





Rambespierre, seu escroto!




Hoje no colégio sentamos eu, Luquinhas e Rambo no fundão da sala durante a aula de física – que por sinal estava em Código Morse – e, portanto, começamos a conversar. Papo vai, papo vem e os dois começaram a discutir sobre as eleições – Rambo 15, Luquinhas 13. Fiquei escutando a dialética dos dois e pedi para que eles escrevessem algo sobre a eleição de domingo. Saiu isto:

“Lídice minha anta!

Uma pinta na cabeça e Jaques Wagner por trás.
Você já governou; não quero mais, não quero mais!”

“Eu queria era votar em Plínio Salgado!”

“Fazendo a revolução em Salvador. Robespierre, a França me chamou.”

“João do coração quer ser João do pé de feijão. Chegar na terra dos gigantes e torna-se um deles. Mas quem foram os gigantes? ACM, FHC, Collor, Vargas... Será que devemos ajudar a plantar esse feijão?”

O poeminha sobre Lídice, a frase declarativa sobre Plínio Salgado e a rima ridícula envolvendo Robespierre foram escritas por Rambo. Já o outro poeminha sobre João do coração foi escrito por Luquinhas. Não tenho muito o que discordar do texto dele, apesar de ter sido feito na brincadeira. Acho que João quer roubar mais para atingir a conta bancária dos gingantes mesmo, mas isso não vem ao caso. O que chamou mesmo minha atenção foram os textos de Rambo. Tudo bem com relação à anta dele, é a sua opinião política.
Agora querer ressuscitar Plínio Salgado e Robespierre nas eleições de Salvador é o fim da picada!
Plínio Salgado, que foi um integralista que apoiou o Estado Novo de Vargas – isso inclui a Constituição Polaca – e foi acusado de facismo por Glauber Rocha, não deve receber apologias em pleno ano de 2008. Querer que ele assumisse a prefeitura de uma cidade leiga na política como Salvador, é querer destruir toda a nossa luta por uma sociedade mais justa e igualitária. É querer a morte de Salvador!
Quanto a Robespierre, eu dei foi risada pelo fato de ele ter votado num candidato a vereador com o mesmo nome do infeliz. É sério, Rambo votou em “Robespierre” para vereador! Ele disse que votou porque o dito cujo era amigo do seu padastro, mas isso não vem ao caso. O que me afligiu foi ele querer ressuscitar outro nome inútil da história! É, nesse caso ele foi resgatar a figura lá no final do século XVIII, quando Robespierre tornou-se o primeiro representante dos jacobinos na Revolução Francesa. Sim, ele apoiou e compactuou com a Revolução Francesa. Mas adivinha o que a anta (risos) fez: mandou matar seus opositores políticos, os girondinos, e levou junto os jacobinos e revolucionários, seus companheiros, para debaixo da terra! Acho que ele tinha problemas de identificação, só pode. Só podia ter sido morto enforcado mesmo...
Será que o “Robespierre” brasileiro também seria assim, caso fosse eleito? Que nem o xará defunto? Você quer trazer as desgraças do passado para o presente da nossa cidade, Rambo?! EscrÔto...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Onde está o Rock?




Eu realmente não entendo a postura dos intitulados “rock stars” que tocam um pop comercial de lixo no Brasil. O gênero do rock e a atitude rock – que são coisas distintas – estão sendo recorridas por bandas brasileiras mixurucas desde o começo do novo milênio a fim de serem iluminadas pelos holofotes da mídia teen. O fato é que elas não tocam rock e nem tem atitude rock.
A coisa mais patética de ouvir nas entrevistas feitas a “rock stars” nos programas de tevê que pensam em falar sobre música é ouvir dos tais que tocam rock. Uma vez eu vi uma entrevista pós-show da banda KLB no Multishow, e um dos três patetas disse que estava muito feliz e radiante após ter tocado rock and roll a noite inteira. De imediato, supus que eles tocaram Hotel Califórnia dos Eagles no final do show, pois uma vez os vi tocarem (muito mal, por sinal) a música num programa fútil da MTV.
O apelo pelo gênero está sendo feito pelas gravadoras que, ao observarem a resposta do público teen a bandas como KLB e LS Jack, massificam o ouvido da adolescência enquanto destroem a imagem do rock ao contratarem bandas como essas. Imagino como os pais de fãs histéricas(os) enxergam o “rock” feito pelas bandas do momento: filhinhos de papai enfeitadinhos com calças rasgadas, camisas estampadas do título Woodstock e cabelos com penteados radicais tocando e cantando músicas monofônicas com letras bobas e moldadas para atingir e ensurdecer o ouvido de seus filhos. Senhores pais, tenho uma notícia boa: o rock não é isso que toca nos shows onde seus filhos vão! O rock é algo bem maior e de melhor qualidade. Os senhores devem se lembrar dos tempos de colégio ou de faculdade nos quais ouviam “Bete Balanço” nas pistas de dança e “Balada do Louco” nas tardes trancados dentro de seus quartos. Aí poderão se lembrar o que é o rock brasileiro e constatar que o “rock” tocado por algumas bandas brasileiras é uma farsa.
Outra coisa, também patética, é assistir aos shows dessas bandas. A postura dissimulada sobre os palcos é, para qualquer roqueiro, motivo de chacota e gargalhadas. A atitude rock and roll forçada e idealizada - com direito a gritos, chegando a exaltar todas as veias do pescoço, e guitarras quebradas no final do show – me dá nojo. É por isso que sinto orgulho em assistir, nem que seja pela televisão, aos shows de bandas e artistas roqueiros como Legião Urbana, Raul Seixas, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Cazuza, Cássia Eller e Os Mutantes.