quarta-feira, 20 de maio de 2009

Efeito globalização



Foto: Lorena Vinturini


Têm dias que eu fico assim... Indiferente. Fico desinteressado pela vida. O que aciona a minha indiferença nesses dias é a opinião dos outros. Tenho relações com as mais variadas personalidades humanas e sempre procuro entendê-las e respeitá-las. Mas quando ouço opiniões diferentes das minhas em certos assuntos, eu realmente me decepciono. Sei lá. Não quero que as pessoas pensem que nem eu não, sério. O problema é que certas idéias parecem tão lógicas e coerentes para mim que estranho as idéias diferentes às minhas. É meio que um "idealcentrismo". É natural estranhar os ideais alheios, as opiniões alheias, mas nem sempre externalizamos isso. Quando externalizamos, estamos refutando, contra- argumentando. E são nessas horas que a minha indiferença surge. Quando refuto, é porque minha opinião não admite a opinião do outro. E isso só acontece quando o assunto é importante para mim. Quando descubro opiniões contrárias à minha sobre esses assuntos, eu verbalizo. E depois que refuto, tento convencer que a minha opinião está certa. Quando não consigo, fico indiferente. Fico desistimulado com os ideais humanos. Entro na minha indiferença e fico calado. Pensando. Pensando. Pensando que a minha opinião é única e que existem milhões de outras opiniões. Cada qual com justificativas diferentes. E então eu fico com preguiça de pensar, fico com preguiça de omitir mais alguma opinião. Parece que o mundo é um fervilhão de pensamentos e que é difícil extrair dele um consenso
entre os Estados. Efeito globalização... Tudo uma questão de opinião!

sábado, 16 de maio de 2009

Saideira infinita



Há tempos que eu conheço a Cascadura - na verdade, nem tantos assim, pois seria o Dr. Cascadura. Mas, para a minha idade de bebê no rock n' roll - minha idade é quase a idade da banda -, os três anos que ouço Cascadura não é pouca coisa. Comecei a ouvi-la no primeiro ano colegial, quando meu amigo Argôlo me apresentou a banda com uma coletânea que ele gravou num cd. Ainda não tinha saído o Bogary - eu acho - e as músicas do cd eram, na maioria, do penúltimo álbum da banda: Vivendo em Grande Estilo. Retribuição. Sparkle Girl. A Mãe da Garota. Ave maria! Eu, que comecei a ouvir rock com bandas internacionais - Nirvana, Metallica, Guns n` Roses e Deep Purple -, não conseguia entender como uma banda daqui de Salvador poderia ser tão boa assim. Cabeça fechada de adolescente enlatado - até hoje sou um pouco assim na música, bem mais tênue, claro. Eu poderia dizer que foi com a Cascadura que eu comecei a me interessar pelas bandas de rock aqui da cidade e, posteriormente, as do Brasil. Eu pensava: Porra! A poucos quilômetros de distância da minha casa vai ter um show de rock, aquele rock que ouço nos cd's. Isso... Então eu ia! Acho que o período que eu mais fui pra shows até hoje na minha vida foi no segundo ano colegial, em 2007. Eu me enfiava nas casas de show embaixo da terra (ou da cena: underground) nos fins de semana enquanto meu amigos iam aos barzinhos tomar uma e paquerar, iam ao cinema com meninas - desconhecidas ou não- e quando iam pra shows, iam pra shows em cima da terra (ou da cena: "aboveground"). Foi a Cascadura, portanto, que me abriu caminhos para o interesse do mundo musical underground de Salvador.
Quanto àquele cd que Argolo me deu, o resultado auditivo foi sensacional. Além de ter músicas do Vivendo em Grande Estilo, também tinham músicas do primeiro e do segundo cd, tais como Nicarágua. "Quando eu chegar na Nicarágua, mando um cartão-postal pra ela (...)". Esse refrão era, e ainda é, magnífico. Arranjo simples, vocal simples, tudo simples... A forma que os deixam maravilhosos. Eu, que estava acostumado a ouvir no rock aqueles ruídos de guitarra que pareciam deixar a música complicada - mas, na verdade, a deixava suja -, me encantei pelo poder da forma musical que as músicas daquele cd tinha.
Contei um pouco da minha relação inicial com a Cascadura para contar do show que eu e - adivinha quem? Argôlo! A-ha! (sic) - fomos ontem lá no World Bar. Acabamos encontrando um velho amigo nosso no show também: Felipe. Ontem foi sensacional! Não estava nem ligando para o som - que não estava muito bom -, tava relembrando da época que eu comecei a ouvir a banda, da época que eu escrevi acima. Foi um misto de alegria e nostalgia. Músicas fantásticas e melódicas... E Fábio cantando com todo aquele jeito Creedence de cantar! E mais que isso: com todo o seu amor pela Cascadura, que está tatuada na sua pele. Ontem, vivi momentos fanstásticos com a primeira saideira (haha) da Cascadura. Eles vão encerrar a turnê do Bogary para produzirem cd novo e um dvd. Acredito que é a hora mesmo. Ainda pode-se extrair muita coisa boa dessa banda. A saideira acaba, mas não acaba. As músicas do Bogary e as do outros cd's sempre estarão na memória de todos que admiram a Cascadura. Estou esperando pelo cd novo da banda que me iniciou um período da minha vida, não só musical como também psicológica e ideológica. E que seja bom!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cadeado, rosa e amor


Foto: Lorena Vinturini




Ao olhar essa foto de Ló, sabia que poderia extrair dela algo literário. Só não sabia o quê. Pensei em coisas que a gente tranca com amor, pensei no amor quando é trancado... Sempre atribuindo metaforicamente o amor à rosa. Agora - agora mesmo - penso no amor pendurado quando trancamos algo. A deriva do amor nos trancamentos da vida, é isso! Vem em mente agora o meu pensamento sobre a foto! O bom do pensamento é esse: cada um pode ter o seu e ninguém tem razão quando o discorda. Nosso pensamento é único, é privado. Parafraseando Renato Russo: não estatize meus pensamentos.
Devemos ter cuidado com os nossos trancamentos, nossos fechamentos de ciclo, nossas aversões à pensamentos e preconceitos com novas possibilidades, pois elas podem nos privar do amor. O amor nos abre os horizontes da realidade e nos permite sonhar, idealizar e sentir. Viver somente a realidade não nos cabe. O amor existe para que sejamos abertos ao mundo espiritual e transcedente. Trancar, quase sempre, não é uma boa opção. As correntes, o cadeado e a chave nos priva de entrar no portal da nossa essência. Nos priva de entrarmos em nós mesmos, nos nossos inconscientes. Por isso, devemos ter cuidado nessas nossas fechadas na vida. Elas podem deixar o amor à mercê do acaso, da ventura. Será que vale a pena pendurar o amor? Arriscar o amor? Arriscar as novas possibilidades de vida sem sequer conhecermos?

domingo, 3 de maio de 2009

Descoberta de um jornalista





Quero só escrever da minha alegria e surpresa num momento do encontro maravilhoso que tive durante dias com alguns amigos e amigas numa casa um pouco longe de Salvador. Surpresa é bom assim: quando vem com alegria.
Ontem, na despedida do feriado operário, sentamos eu e alguns dos homens da casa para discutir sobre economia - mais especificamente sobre bolsa de valores. Regada a muito vinho, a conversa na mesa de madeira retangular foi se alastrando nas diversas áreas das ciências sociais. Discutimos economia, política, ideologias, revoluções, história e, principalmente, mudança política e social. E na passagem de cada assunto dessas áreas tomávamos uma garrafa de vinho para o papo ficar mais filosófico, digamos. Argôlo deu o encerramento da conversa e eu completei com uma frase do maquiavélico finado Antônio Carlos Magalhães: "Eu elejo até um poste na Bahia."
Terminada a discussão, fui pegar um copo de água na cozinha e me deparei com Felipão - meu grande e eterno amigo. Ele me falou algo sobre governantes - que não me lembro agora - e eu lhe disse que seria muito difícil eu me candidatar a ser um político, pois penso que um político, embora não seja assim na real, precisa ser um ser elevado psicologicamente para pensar no coletivo como ninguém, além de ter estudos aprofundados sobre política, poder, direito e sociedade. Felipão, então, me encara de forma espetacular e indômita: "Precisa ser elevado coisa alguma, Fábio. Você só precisa ter uma boa aparência, uma boa lábia e uma forte aliança econômica com o setor privado!" .
Foi magnífico de crítico. Eu vi e ouvi surgir um espírito jornalístico em Felipão...