segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Guitarra e supermercado




Há uns dias atrás fomos ensaiar no estúdio de Rafael, dentro do “nobre” bairro que é a Pituba. Cheguei mais cedo que todo mundo, mais cedo até que o próprio Rafael, o dono do estúdio. Estúdio trancado. Domingo. Rua vazia. Tudo fechado. Nada aberto para um jovem guitarrista à espera de um ensaio que iria começar a meia hora. Eu, com a guitarra na mão e mochila nas costas, não tinha como ficar sentado no meio-fio. Sabe como é a violência... Ainda mais nessa época do ano, em que a carência econômica grita ainda mais por causa do carnaval. A segregação que há nessa festa desperta em todos os segregados a vontade de entrar, também, no camarote do Othon – vestindo aquela roupa nova que compramos só para o carnaval -, de vestir o abadá do Camaleão e de, até mesmo, bancar uma viagem para longe da folia.
Pois é. Tinha um supermercado, que era o único local aberto na área. Fora isso só tinham lojas trancadas e protegidas com grades metálicas e condomínios com suas guaritas e câmeras para assegurar a proteção dos moradores. Senti-me como um excluído, então corri para o supermercado. Fui para o fundo dele, sentei-me e coloquei a guitarra no chão (foto acima). Foi aí que o assunto do carnaval voltou a ser questionado. Após ter tocado na rádio Madeilene Peyroux e Audioslave, a monofonia do Axé deu o som da desgraça no local.
Pessoas saqueiam e gastam dinheiro com roupas novas, maquiagem, cabelo, camarote e abadá para ouvirem Axé o dia inteiro durante sete dias? Não, não. Acho que ninguém faz isso simplesmente para ouvir Axé. É convenção. É padrão. Está na semiótica do baiano participar da folia carnavalesca. É que nem o lema do Festival de Verão: “Eu, você, todo mundo lá”.
Bem... Saindo do supermercado, fui ensaiar com os caras. E lá estávamos nós, tocando Rock em Salvador.


Obs.: Não quero que ninguém saqueie alguém para ir a nenhum show de Rock aqui em Salvador, quanto menos no nosso que será domingo, no Irish Pub (Barra).