A educação é uma prática social. A educação é uma atividade cultural. Qualquer forma de educação tem a sua explicação e origem na sociedade. Tem origem, portanto, no homem e nas suas relações. Enfim, a educação é um produto humano, que está sujeito a subjetividades e, consequentemente, a interesses. Muito se discute hoje, e sobretudo hoje, sobre a educação. Imediatamente (infelizmente) restringimos à tríade educação-escola-ensino e a discussão se pauta nas políticas públicas de incentivo ao professor - como hoje se veicula nas políticas propagandísticas do MEC -, no investimento em cursos tecnológicos nas universidades e na disponibilização de símbolos de inclusão social nas escolas públicas - como o computador. Será mesmo essa a abordagem que realmente contribuirá para a melhora que o senso comum deseja para a educação? Caminhar por complexidades não faz parte dos excercícios do senso comum - quanto mais o do brasileiro.
Para ser mais direto, vou logo tratar de um tema que, particularmente, me interessa. Programas de reforma na educação brasileira estão sendo articulados e suas iniciações já estão sendo efetuadas. A proposta de extermínio do vestibular é um dos programas, inclusive partidários, que se "fortalece" no país. As cotas, por sua vez, é justamente a iniciação aos objetivos maiores que o MEC propõe junto com o fortalecimento do ENEM. Bom. A Universidade Federal da Bahia iniciou ano passado cursos interdisciplinares: os famosos BIs. Teoricamente, esses cursos são direcionados a todos aqueles que pretendem ampliar o seu conhecimento sobre as quatro áreas do conhecimento que a UFBA ditou: Humanidades, Saúde, Artes e Ciências e Tecnologias. Este ano a maneira de ingressar nesses cursos é através do ENEM. Sem críticas gerais e oportunistas, há de se valorizar essa iniciativa, pois é uma proposta de estruturação do conhecimento, visto que há a necessidade imensa de estruturá-lo - mesmo sendo só pós ensino médio. Para os estudantes que vieram de escolas públicas, todos sabem que essa prática é necessária. Poucos entedem que o estudante que veio de escola particular - incluindo o Módulo, o Anchieta e os demais - não possuem uma visão ampla sobre o que é o conhecimento e qual a postura que se deve ter para adquirí-lo (porque o que se aprende nesses colégios não é durável e a instrução sobre os cursos universitários e suas atuações, piorou; outro dia ouvi de um estudante de um desses colégios que fazer jornalismo é igual a morrer de fome). Daí está a importância dos BIs: instruir!
Mas, é natural a aversão a qualquer fato que venha a remexer ou revisar nossos costumes. O preconceito que o próprios cursos interdisciplinares e seus estudantes passam, é de se refletir. Alguns pensam que o diploma não vai servir pra nada (assim como pensam do jornalismo). Outros pensam que estudar de maneira interdisciplinar é mesma coisa que estudar o nada, pois pensam que o processo de conhecimento deve ser linear e restrito à somente uma faceta de uma área científica. Enfim, os pensamentos são vários, mas todos com maus olhares aos cursos. Olhares conservadores, eu escrevo. Olhares hipócritas, eu penso. Sabe o por quê? Porque todos têm uma sensação de responsabilidade social, de responsabilidade individual. Todos escreveram, em pelo menos uma das redações no colégio, que, de formas variadas, a educação precisa ser repensada, ou que a educação no Brasil está ruim. E agora estão jogando tudo o que escreveram no lixo. Críticas desconstrutivas ao BI não chegam mais aos meus ouvidos com um pingo de consideração. A educação merece discussões mais aprofundadas; Merece discussões que ultrapassem a impropérios preconceitos e conservadorismos.