quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Direito como perversidade e como utopia





A prática e a doutrina da ciência humana do Direito - que para muitos é normativa e para outros muitos nem ciência é - demonstra, hoje, sua anomalidade e perversidade como síntese de um processo dialético na história. A formação da cultura e do profissional jurídico no Brasil esteve arraigada em princípios conservadores, individualistas, liberais-burgueses, e por causa disso o Direito se tornou anti-social, por não representar e nem enxergar o povo no seu arcabouço burocrata, que inclui o vocabulário defasado. É triste perceber esses traços que geram inúmeras perversidades e que foram implantados no Brasil-colônia aqui conosco em pleno 2009: nas faculdades de Direito, no exercício jurídico em suas variadas facetas, na política partidária dos juristas e no imaginário acrítico do povo. A tradição jurídica desvinculadas de atitudes mais comprometidas com a vida cotidiana e com uma sociedade em constante transformação é um levantamento de pura perversidade aqui no Brasil. A postura técnica e casuística fecha-se frente ao dinamismo dos fatos e resiste a um direcionamento criativo, não conseguindo mais responder a novas necessidades. O exercício do Direito como algo supremo, chique e exclusivo para poucos é um embargo à realidade social, visto que, por esse e por muitos fatores, a Sociologia jurídica como matéria ineficaz e desvalorizada nos cursos de Direito e a práxis social é atividade alheia à maioria dos juristas e, principalmente, dos magistrados.
Há de se repensar o exercício da prática jurídica, certamente como utopia, tendo em conta uma nova lógica ético-racional, capaz de encarar a produção dos direitos como inerentes ao processo histórico-social, um Direito que transpõe os limites do Estado, encontrando-se na práxis social, nas lutas cotidianas, nas coletividades emergentes e nos movimentos sociais. Há de se perspectivar um novo Direito, junto com uma nova racionalidade e prática jurídica, pois não há de se conviver muito tempo com esse insustentável Direito alienado e alienante!

sábado, 10 de outubro de 2009

Nem Lula, nem Obama, nem o MST...


Nada de mais bizarro que ler frases de Lula e saber do ganho do Nobel da Paz de Obama pode acontecer hoje. Ou, pelo menos, ao decorrer da semana que vai se iniciar. Primeiramente, leio uma nota pequena no jornal A Tarde de hoje em que Lula criticou o "ato de vandalismo" do MST - no qual foi derrubado pés de laranja numa fazenda invadida pelos ruralistas sem-terra. Segundo ele, foi um ato de vandalismo e não uma manisfestação de cobrança. "Pode demonstrar sem fazer destruição de máquinas e nem de pés de laranja", disse ele.


O MST é um grupo de pressão. É um grupo de fudidos que não têm terras para produzir e nem para morar, por isso pressionam o Estado para que se efetue os assentamentos da reforma agrária que está prevista em lei. A reforma agrária está prevista em lei. Lula, ao encerrar seu discurso sobre o "ato de vandalismo" dos sem-terra, nos relembra que este país tem constituição e leis que precisam ser cumpridas. Notoriamente, ele se referia a leis de proteção e defesa da propriedade privada - em que todos devem respeitar a propriedade privada alheia. Engraçado. Nessa horas de contradições sempre penso em Marx: em todo argumento, toda teoria, há sua contradição. Lula se auto-criticou. Se a reforma agrária está prevista em lei, ela deve ser cumprida. Se não é cumprida, o MST vai continuar pressionando e descumprindo leis que se referem à propriedade privada (a terra, no caso) até que a lei se assente. É compreensível o "ato de vandalismo" dos sem-terra, mas, obviamente, não é o ideal. Simultaneamente, considerando-se a formação social e ética do nosso país, é compreensível o descaso dos políticos com os pobres e sem-terra. Não chega nem um pouco a ser prudente, quanto mais a ser ideal.


Em seguida, leio sobre o prêmio Nobel da Paz. Obama ganhou por representar uma atividade de diplomacia entre os países do mundo, dissipando a paz. Nada se falou sobre as bases militares americanas espalhadas no mundo. Nada se falou sobre as tropas militares no Iraque. É lamentável, diante de tantos ícones mundiais que receberam esse prêmio como Mandela, assistir à essa palhacada. Realmente, deve estar faltando gente que represente e promova a paz neste mundo, porque Obama não chega aos pés de alguns merecedores desse prêmio.


Nem Lula, nem Obama, nem o MST deveriam ter ganho o prêmio Nobel da Paz. Desta vez, considerando a falta de ícones e representantes públicos mundiais dignos de receber o prêmio, receberíamos nós: a sociedade civil, o povão alienado. Nós, realmente, somos inativos no sentido de mudança das situações diversas que, aparentemente, nos afetam. Seríamos nós os ganhadores do Nobel da Paz. A paz no sentido da tranquilidade, da conformidade, da pacífica solução que não efetuamos até hoje - provavelmente, nunca será efetuada. É um mérito pela alienação nossa de cada dia, que pacifica nossas atitudes com relação à injustiça social e indignação com os fatos absurdos que nos circundam.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Educação, sobretudo.

A educação é uma prática social. A educação é uma atividade cultural. Qualquer forma de educação tem a sua explicação e origem na sociedade. Tem origem, portanto, no homem e nas suas relações. Enfim, a educação é um produto humano, que está sujeito a subjetividades e, consequentemente, a interesses. Muito se discute hoje, e sobretudo hoje, sobre a educação. Imediatamente (infelizmente) restringimos à tríade educação-escola-ensino e a discussão se pauta nas políticas públicas de incentivo ao professor - como hoje se veicula nas políticas propagandísticas do MEC -, no investimento em cursos tecnológicos nas universidades e na disponibilização de símbolos de inclusão social nas escolas públicas - como o computador. Será mesmo essa a abordagem que realmente contribuirá para a melhora que o senso comum deseja para a educação? Caminhar por complexidades não faz parte dos excercícios do senso comum - quanto mais o do brasileiro.


Para ser mais direto, vou logo tratar de um tema que, particularmente, me interessa. Programas de reforma na educação brasileira estão sendo articulados e suas iniciações já estão sendo efetuadas. A proposta de extermínio do vestibular é um dos programas, inclusive partidários, que se "fortalece" no país. As cotas, por sua vez, é justamente a iniciação aos objetivos maiores que o MEC propõe junto com o fortalecimento do ENEM. Bom. A Universidade Federal da Bahia iniciou ano passado cursos interdisciplinares: os famosos BIs. Teoricamente, esses cursos são direcionados a todos aqueles que pretendem ampliar o seu conhecimento sobre as quatro áreas do conhecimento que a UFBA ditou: Humanidades, Saúde, Artes e Ciências e Tecnologias. Este ano a maneira de ingressar nesses cursos é através do ENEM. Sem críticas gerais e oportunistas, há de se valorizar essa iniciativa, pois é uma proposta de estruturação do conhecimento, visto que há a necessidade imensa de estruturá-lo - mesmo sendo só pós ensino médio. Para os estudantes que vieram de escolas públicas, todos sabem que essa prática é necessária. Poucos entedem que o estudante que veio de escola particular - incluindo o Módulo, o Anchieta e os demais - não possuem uma visão ampla sobre o que é o conhecimento e qual a postura que se deve ter para adquirí-lo (porque o que se aprende nesses colégios não é durável e a instrução sobre os cursos universitários e suas atuações, piorou; outro dia ouvi de um estudante de um desses colégios que fazer jornalismo é igual a morrer de fome). Daí está a importância dos BIs: instruir!


Mas, é natural a aversão a qualquer fato que venha a remexer ou revisar nossos costumes. O preconceito que o próprios cursos interdisciplinares e seus estudantes passam, é de se refletir. Alguns pensam que o diploma não vai servir pra nada (assim como pensam do jornalismo). Outros pensam que estudar de maneira interdisciplinar é mesma coisa que estudar o nada, pois pensam que o processo de conhecimento deve ser linear e restrito à somente uma faceta de uma área científica. Enfim, os pensamentos são vários, mas todos com maus olhares aos cursos. Olhares conservadores, eu escrevo. Olhares hipócritas, eu penso. Sabe o por quê? Porque todos têm uma sensação de responsabilidade social, de responsabilidade individual. Todos escreveram, em pelo menos uma das redações no colégio, que, de formas variadas, a educação precisa ser repensada, ou que a educação no Brasil está ruim. E agora estão jogando tudo o que escreveram no lixo. Críticas desconstrutivas ao BI não chegam mais aos meus ouvidos com um pingo de consideração. A educação merece discussões mais aprofundadas; Merece discussões que ultrapassem a impropérios preconceitos e conservadorismos.




quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Multifacetadas particularidades capitalistas


Hoje, sérias questões decorrem da apropriação dos meios de produção e da falta de regulamentação do mercado capitalista neoliberal, pois a crise nos remete a esse germe trágico que a sociedade produziu durante o processo histórico. A crise econômica, que abala a esfera político-social dos Estados, é fruto da propriedade privada dos meios de produção. A particularização da propriedade - quando se fala em propriedade, é propriedade produtiva, é o meio de produção - foi a salvação da burguesia na Idade Moderna como classe explorada diante à realeza absolutista, que fazia parte da nobreza. E desde essa época até hoje, a propriedade privada dos meios de produção está consolidando o espírito capilista que se dispersa e corrói como um vírus as sociedades civis, as culturas populares e as unidades econômicas dos Estados através do moderno processo de globalização. Por isso que hoje, ao se discutir a crise devemos analisar a dialética da história humana para perceber as intenções e ideologias que se tornaram fundamentais para esse abalo econômico. A crise não só se restringe à esta que presenciamos hoje e nem à de 1929, mas sim à crise estrutural do sistema capitalista.


Egoísmos econômicos e políticos traçaram a história do capitalismo. A superprodução, o superlucro e a frágil regulamentação econômica do Estado são os maiores exemplos desses egoísmos burgueses. Eles demonstram a excessiva individualidade dentro de um processo que determina a vida social da população: a produção. Produzir para quem? Como produzir? E quanto produzir? Essas são as diretrizes da atividade econômica de um país. Elas são encaminhadas por uma pequena parcela da população que detêm os meios produtivos e que nem sequer reconhecem a alteridade nas suas atitudes. O outro vem a ser, literalemente, o outro: que não é você e, portanto, não faz parte de você. A produção vem a ser fruto dos interesses de superlucro dos burgueses e se institui a valorização produtiva dos produtos lucrativos, que, predominantemente, são supérfluos. Os produtos que são necessários, porém, não atrai o consumo tentador e, portanto, não são lucrativos.


Prudentes e otimistas são aqueles que vêem o capitalismo numa ótica de insustentabilidade: o capitalismo é insustentável e, por isso, que nós - consumistas alienados - temos papel importantíssmo, senão o maior, na manutenção e fortificação desse sistema neoliberal. A ruína do capitalismo sustenta-se justamente na produção. A exacerbação da oferta gera diminuição da procura, pois a capital da oferta é acumulado pela exploração do trabalho da população consumista, fazendo com que a desigualdade entre o patrão e o empregado se reflita na oferta e na procura econômica. Está é a insustentabilidade do capitalismo: quanto mais ele se fortalece, mais cava o seu próprio buraco. É por isso que hoje, o capitalismo, com a sua inteligência maquiavélica, não é tão vulgar e grosseiro a ponto de produzir sua falência, ao invés do superlucro.


A solução para o quadro vulgarmente apresentado acima é justamente o oposto do mesmo: ao invés da propriedade privada dos meios de produção, insitucionaliza-se a propriedade social dos meios de produção; ao invés do individualismo, o coletivismo; ao invés da produção de superflúos geradores do superlucro, a produção de necessidades sociais, etc. A grande questão é o pensamento interdisciplinar da sociedade, é o pensamento em todas as facetas sociais para se poder resolver as carências gerais e poder atingir a felicidade mútua com abundância para todos.

Qualquer semelhança com as idéias marxistas não é mera coincidência.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Atos secretos


Penso que todo mundo deve estar sabendo da baderna e da falta de respeito que está acontecendo e que, na verdade, sempre aconteceu no cenário político do país. É engraçado perceber que a força desse desrespeito, que se originou teoricamente no Senado, atinge toda a estrutura de um sistema presidencialista de governo que é o nosso. Na teoria, a independência dos três poderes é uma das características do sistema presidencialista. As causas maléficas dessa independência não entram em discussão aqui, embora seja uma das fontes da desorganização dos países presidencialistas - isso inclui, e muito, o Brasil. O fato é que essa característica tão valorizada por corruptos se desmantelou durantes alguns momentos da história do país e se desmantela agora. José Sarney. O ex-presidente da república que governou o país e o Estado sob a constituição de 1988: a constituição democrática, agora é acusado de nepotismo e de atos secretos irregulares. É pior que uma contradição, é um paradoxo.
A ratificação de que há personalidades ao invés de princípios, principalmente na atividade política, é prudente nesse momento. José Sarney, considerado por alguns "muito velho para sair do cargo", é um senhor patrão. A força que o "dono" do Maranhão tem na política é absurda, pois faz com que os seus atos secretos sejam arquivados na maior facilidade e com o maior apoio dos amiguinhos políticos. Faz também com que seus amiguinhos - esses não são políticos mesmo - assumam cargos que eram pra ser concorridos ou nomeados por outras pessoas da atividade política. Sua força não condiz, porém, com a sua atitude silenciosa e secreta. Nessas horas, a força de enfrentar a verdade, de se redimir e de largar o cargo não existe.





sexta-feira, 26 de junho de 2009

Só pra variar




Em meio a esse respaldo moral oriundo do turbilhão de fatos que ocorreram nas (minhas) últimas semanas, eu estou em São Paulo escrevendo neste início de noite fria ou comendo um baguete na Augusta. Respaldo moral porque mexeu com tudo o que me pertence mentalmente: meus valores, meus princípios, minha fé, minha consciência, meu ego e o meu super-ego. Primeiro - pra começar arrebentando meus tímpanos: o diploma de jornalismo é dispensável para o exercício da importantíssima profissão do jornalista - um comunicador social. Comunicador social. Saber o que se passa verdadeiramente dentro e fora da sociedade é de muitíssimo grado diante à alienação em que se encontra o povo - brasileiro. Essa é a notícia. Mais importante ainda é ler uma opinião crítica de análise sobre os fatos noticiais. O jornalista também tem opinião - e como tem. Todos com análises diferentes e uns, porém, com conservação e outros com movimento. Essa é a opinião através da análise, que se faz através do conhecimento do fato. É, portanto, triste que o Supremo Tribunal Federal e o seu carrancudo presidente Gilmar Mendes, tenham legalizado essa injúria que é dispensa do diploma de jornalismo.
Segundo - não é trágico como o primeiro fato, mas também não é de todo bom: o encerramento do primeiro semestre da minha faculdade de Direito, junto com o trancamento. Eu não quero trabalhar com Direito, mas acho o curso um poço de análises sociais. É por isso que vou trancar o curso no primeiro semestre para fazer o que me chama: a comunicação. Mas, o primeiro - não sei se será o último - semestre de Direito foi muito bom. Sabem o que é pertencer ao mundo? Não sei se é essa a sincera síntese do semestre, mas foi isso que eu senti. E não pensem que foi Direito que eu comecei a aprender, não. Foi muito mais do que isso. Foi Ciência Política, foi Economia, foi Antropologia, foi Filosofia e foi Teologia. Fiz questão de escrever matéria por matéria para transmitir o meu aproveitamento do semestre. Esse semestre foram acréscimos grandiosos à minha cognição e à minha moral. Há algumas semanas ele acabou. Foi bom. A gente ganha, a gente cresce.
Terceiro - o menos impactante, mas mexeu: o descaso com o condomínio. Eu fui para a reunião do meu futuro prédio e presenciei a falta de coletividade dos meus futuros vizinhos. Coisas como pensar só na varanda do apartamento, sabe? Pois é, é fato. As pessoas não vêem o condomínio como ele é escrito e como ele deve ser - que dá no mesmo. Não é domínio. É condomínio. Não é só seu. É de todos. Um exemplo desse descaso com o condomínio é a última posição temporária do boleto do condomínio na ordem dos pagamentos. É por esses e outros motivos que o dia do comunismo será adiado, definhado...
E na espera desse dia comunista, na espera da iluminação na mente de Gilmar Mendes e cia., na indiferença racional, na maciota é que vou passando mais um dia de inverno aqui na selva de pedras que é São Paulo. E haja frio...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Efeito globalização



Foto: Lorena Vinturini


Têm dias que eu fico assim... Indiferente. Fico desinteressado pela vida. O que aciona a minha indiferença nesses dias é a opinião dos outros. Tenho relações com as mais variadas personalidades humanas e sempre procuro entendê-las e respeitá-las. Mas quando ouço opiniões diferentes das minhas em certos assuntos, eu realmente me decepciono. Sei lá. Não quero que as pessoas pensem que nem eu não, sério. O problema é que certas idéias parecem tão lógicas e coerentes para mim que estranho as idéias diferentes às minhas. É meio que um "idealcentrismo". É natural estranhar os ideais alheios, as opiniões alheias, mas nem sempre externalizamos isso. Quando externalizamos, estamos refutando, contra- argumentando. E são nessas horas que a minha indiferença surge. Quando refuto, é porque minha opinião não admite a opinião do outro. E isso só acontece quando o assunto é importante para mim. Quando descubro opiniões contrárias à minha sobre esses assuntos, eu verbalizo. E depois que refuto, tento convencer que a minha opinião está certa. Quando não consigo, fico indiferente. Fico desistimulado com os ideais humanos. Entro na minha indiferença e fico calado. Pensando. Pensando. Pensando que a minha opinião é única e que existem milhões de outras opiniões. Cada qual com justificativas diferentes. E então eu fico com preguiça de pensar, fico com preguiça de omitir mais alguma opinião. Parece que o mundo é um fervilhão de pensamentos e que é difícil extrair dele um consenso
entre os Estados. Efeito globalização... Tudo uma questão de opinião!

sábado, 16 de maio de 2009

Saideira infinita



Há tempos que eu conheço a Cascadura - na verdade, nem tantos assim, pois seria o Dr. Cascadura. Mas, para a minha idade de bebê no rock n' roll - minha idade é quase a idade da banda -, os três anos que ouço Cascadura não é pouca coisa. Comecei a ouvi-la no primeiro ano colegial, quando meu amigo Argôlo me apresentou a banda com uma coletânea que ele gravou num cd. Ainda não tinha saído o Bogary - eu acho - e as músicas do cd eram, na maioria, do penúltimo álbum da banda: Vivendo em Grande Estilo. Retribuição. Sparkle Girl. A Mãe da Garota. Ave maria! Eu, que comecei a ouvir rock com bandas internacionais - Nirvana, Metallica, Guns n` Roses e Deep Purple -, não conseguia entender como uma banda daqui de Salvador poderia ser tão boa assim. Cabeça fechada de adolescente enlatado - até hoje sou um pouco assim na música, bem mais tênue, claro. Eu poderia dizer que foi com a Cascadura que eu comecei a me interessar pelas bandas de rock aqui da cidade e, posteriormente, as do Brasil. Eu pensava: Porra! A poucos quilômetros de distância da minha casa vai ter um show de rock, aquele rock que ouço nos cd's. Isso... Então eu ia! Acho que o período que eu mais fui pra shows até hoje na minha vida foi no segundo ano colegial, em 2007. Eu me enfiava nas casas de show embaixo da terra (ou da cena: underground) nos fins de semana enquanto meu amigos iam aos barzinhos tomar uma e paquerar, iam ao cinema com meninas - desconhecidas ou não- e quando iam pra shows, iam pra shows em cima da terra (ou da cena: "aboveground"). Foi a Cascadura, portanto, que me abriu caminhos para o interesse do mundo musical underground de Salvador.
Quanto àquele cd que Argolo me deu, o resultado auditivo foi sensacional. Além de ter músicas do Vivendo em Grande Estilo, também tinham músicas do primeiro e do segundo cd, tais como Nicarágua. "Quando eu chegar na Nicarágua, mando um cartão-postal pra ela (...)". Esse refrão era, e ainda é, magnífico. Arranjo simples, vocal simples, tudo simples... A forma que os deixam maravilhosos. Eu, que estava acostumado a ouvir no rock aqueles ruídos de guitarra que pareciam deixar a música complicada - mas, na verdade, a deixava suja -, me encantei pelo poder da forma musical que as músicas daquele cd tinha.
Contei um pouco da minha relação inicial com a Cascadura para contar do show que eu e - adivinha quem? Argôlo! A-ha! (sic) - fomos ontem lá no World Bar. Acabamos encontrando um velho amigo nosso no show também: Felipe. Ontem foi sensacional! Não estava nem ligando para o som - que não estava muito bom -, tava relembrando da época que eu comecei a ouvir a banda, da época que eu escrevi acima. Foi um misto de alegria e nostalgia. Músicas fantásticas e melódicas... E Fábio cantando com todo aquele jeito Creedence de cantar! E mais que isso: com todo o seu amor pela Cascadura, que está tatuada na sua pele. Ontem, vivi momentos fanstásticos com a primeira saideira (haha) da Cascadura. Eles vão encerrar a turnê do Bogary para produzirem cd novo e um dvd. Acredito que é a hora mesmo. Ainda pode-se extrair muita coisa boa dessa banda. A saideira acaba, mas não acaba. As músicas do Bogary e as do outros cd's sempre estarão na memória de todos que admiram a Cascadura. Estou esperando pelo cd novo da banda que me iniciou um período da minha vida, não só musical como também psicológica e ideológica. E que seja bom!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cadeado, rosa e amor


Foto: Lorena Vinturini




Ao olhar essa foto de Ló, sabia que poderia extrair dela algo literário. Só não sabia o quê. Pensei em coisas que a gente tranca com amor, pensei no amor quando é trancado... Sempre atribuindo metaforicamente o amor à rosa. Agora - agora mesmo - penso no amor pendurado quando trancamos algo. A deriva do amor nos trancamentos da vida, é isso! Vem em mente agora o meu pensamento sobre a foto! O bom do pensamento é esse: cada um pode ter o seu e ninguém tem razão quando o discorda. Nosso pensamento é único, é privado. Parafraseando Renato Russo: não estatize meus pensamentos.
Devemos ter cuidado com os nossos trancamentos, nossos fechamentos de ciclo, nossas aversões à pensamentos e preconceitos com novas possibilidades, pois elas podem nos privar do amor. O amor nos abre os horizontes da realidade e nos permite sonhar, idealizar e sentir. Viver somente a realidade não nos cabe. O amor existe para que sejamos abertos ao mundo espiritual e transcedente. Trancar, quase sempre, não é uma boa opção. As correntes, o cadeado e a chave nos priva de entrar no portal da nossa essência. Nos priva de entrarmos em nós mesmos, nos nossos inconscientes. Por isso, devemos ter cuidado nessas nossas fechadas na vida. Elas podem deixar o amor à mercê do acaso, da ventura. Será que vale a pena pendurar o amor? Arriscar o amor? Arriscar as novas possibilidades de vida sem sequer conhecermos?

domingo, 3 de maio de 2009

Descoberta de um jornalista





Quero só escrever da minha alegria e surpresa num momento do encontro maravilhoso que tive durante dias com alguns amigos e amigas numa casa um pouco longe de Salvador. Surpresa é bom assim: quando vem com alegria.
Ontem, na despedida do feriado operário, sentamos eu e alguns dos homens da casa para discutir sobre economia - mais especificamente sobre bolsa de valores. Regada a muito vinho, a conversa na mesa de madeira retangular foi se alastrando nas diversas áreas das ciências sociais. Discutimos economia, política, ideologias, revoluções, história e, principalmente, mudança política e social. E na passagem de cada assunto dessas áreas tomávamos uma garrafa de vinho para o papo ficar mais filosófico, digamos. Argôlo deu o encerramento da conversa e eu completei com uma frase do maquiavélico finado Antônio Carlos Magalhães: "Eu elejo até um poste na Bahia."
Terminada a discussão, fui pegar um copo de água na cozinha e me deparei com Felipão - meu grande e eterno amigo. Ele me falou algo sobre governantes - que não me lembro agora - e eu lhe disse que seria muito difícil eu me candidatar a ser um político, pois penso que um político, embora não seja assim na real, precisa ser um ser elevado psicologicamente para pensar no coletivo como ninguém, além de ter estudos aprofundados sobre política, poder, direito e sociedade. Felipão, então, me encara de forma espetacular e indômita: "Precisa ser elevado coisa alguma, Fábio. Você só precisa ter uma boa aparência, uma boa lábia e uma forte aliança econômica com o setor privado!" .
Foi magnífico de crítico. Eu vi e ouvi surgir um espírito jornalístico em Felipão...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A mais valia do trabalhador





Nesta sexta-feira, dia 1 de maio, será o dia do trabalho e, por conseguinte, dia do trabalhador. Eu, particularmente, tenho muito apreço por esse dia - e bote apreço nisso. Lembro-me que meu apartamento foi arrombado e saqueado nesse bendito dia há uns anos, mas isso não é assunto merecido de escrita. O engraçado desse fato foi que o suposto saqueador era - ou ainda é - trabalhador e eu ainda continuo admirando o trabalhador e o seu dia.

Nem sempre o trabalho foi considerado importante e indispensável, como é atualmente, ao longo da história. Se pararmos para pesquisar, encontraremos diversas faces e visões do trabalho. Como diria Ademar - meu grande professor de Ciências Políticas -, o bom da História é este: "Ela está cheia de provas. Nela, encontramos a prática de quase tudo o que estudamos aqui sobre as ciências sociais." Um exemplo é a antiga civilização grega e o seu ócio criativo. Ficar filosofando, cultuando o própio corpo e comendo uvas eram tidas como atividades dignas. Já o trabalho manual, o trabalho escravo, eram tidas como atividaes não dignas, atividades que desmereciam e desmoralizavam o homem. O trabalho segundo os gregos, então, era não digno. É importante ressaltar que os gregos não faziam distinção entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, considerando somente o trabalho manual como sendo o trabalho genérico. Ou seja, desde a antiguidade clássica, o trabalho manual fora marginalizado. E, ao longo da história humana, outras faces do trabalho apareceram.

A Revolução Burguesa dos franceses demonstrou outra visão do trabalho. Os burgueses industriais franceses dependiam totalmente do trabalhador assalariado para operar suas máquinas de capital. Daí vem título de operário, junto com a Primeira Revolução Industrial. Na qual, o trabalho era o de operar as máquinas. O operário começava a ter importância para com a classe dominante. E, consequentemente, foi muito (mal) utilizado... A exploração do trabalho assalariado na Idade Moderna era basicamente ligada à industrialização. Operários trabalhando longa jornadas nas fábricas, homens, mulheres e crianças dormindo no meio das máquinas após a incessante labuta. Todos contribuindo para a prática do capital, mas não o capital para todos. Uma das pervesidades da burguesia e do capitalismo foi - e ainda é - a ilusão da liberdade. Sabe a famosa trindade da Revolução Francesa? Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Pois é. A liberdade proposta é a liberdade econômica, dentre ela a liberdade de consumo. Traduzindo para a linguagem capitalista: trabalhem, gastem comprando o que eu produzo, me enriqueçam e não se queixem de falta de liberdade.

A partir daí, o trabalhador foi sendo subsituído pelas máquinas e o seu emprego ficava cada vez menos estável e seguro. Sabendo da dependência que os industriais tinham pelo seu trabalho e pela importância do mesmo, começaram a se orgnizar e a formar sindicatos. Saiba que a união dos oprimidos sempre foi e sempre será mais coesa e verdadeira que a dos opressores. E junto a esse conexto, surgem Karl Marx e a sua ideologia socialista científica - acompanhado de Frederich Engels. Luta de classes. Dituadura do proletariado. Manifesto Comunista. Toda essa ideologia produzida e divulgada na época, gerou mudanças no pensamento operário. A formação dos sindicatos pela classe operária foi bastante acentuada nesse período de fim do século XIX.

O trabalho, por si só, foi valorizado. Mas, houve - e ainda há - discriminação com o trabalho manual. No Brasil, particularmente, existe a discriminação atual com o presidente Lula: "De torneiro mecânico passa a ser presidente! Como é que pode?" - diz o povo brasileiro. Só de sacanagem, portanto, vou retroagir. Vou pensar como na Grécia Antiga e vou considerar somente o trabalho manual como o trabalho total: Parabenizo e homenageio todos os trabalhadores (sendo eles manuais, iguais a operários) - esses sim merecem destaque no discurso, pois foram eles que construíram tudo o que nós, burgueses, fizemos. Dia 1 de maio é o dia do OPERÁRIO que, com sangue, suor e lágrimas, construiu toda a semiótica do trabalhador honesto e dignificou essa necessária ocupação.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Será que existe um jeitinho brasileiro?



O Brasil tem o seu caráter, o difícil é defini-lo. A formação da identidade de um país está estreitamente relacionada aos acontecimentos históricos, que envolvem todos os fenômenos sociais – economia, política, etc. O Brasil passou por inúmeras situações históricas, que contribuíram para a formação de sua identidade. Uma delas foi de extrema importância para a constituição do povo brasileiro: a colonização. Naquele período, negros, índios e europeus fizeram parte da população, o que a tornou miscigenada. É essa mistura de culturas, presente desde o início da nação, que torna complexa a definição do caráter brasileiro. Com as diversas etnias formadas, a sociedade brasileira foi se desenvolvendo... Com a formação de um Estado soberano, seja ele monarquia ou república. A população foi se espalhando pela grande extensão territorial do país confeccionando os seus laços, enraizando suas culturas e cultivando suas preces. O Brasil foi se estabelecendo como um complexo étnico-cultural.
Diante a essa complexidade, o fator econômico foi se destacando ao longo do tempo. Regiões eram classificadas economicamente de acordo com os seus recursos – sejam eles geográficos, políticos ou sociais. Hoje, podemos entender o motivo dessa fragmentação hierárquica do poder econômico dentre as regiões do país analisando os seus passados. A desigualdade econômica das regiões acentua-se de forma gradativa. Um exemplo disso é o estado de São Paulo, que se difere do resto do país desde a época do café e hoje é o grande centro econômico brasileiro. Há vários “Brasis” no Brasil. O Brasil do eixo Rio - São Paulo, o do nordeste, o do Sertão, o do sul, o do norte, o da Amazônia, o do centro – oeste, o do Pantanal, etc.
Outro fator que acentua a complexidade de definição do caráter brasileiro é o étnico. Cada região, cada canto, cada pedaço do país possui aspectos culturais divergentes e, até mesmo, antagônicos. Isso se deve à formação étnica da população regional, suas heranças culturais. O sul herdou um pouco mais da cultura européia, o nordeste herdou mais da cultura africana, e assim por diante. Todas as regiões, porém, herdaram, em proporções diferentes, aspectos culturais de todos os povos que constituíram o universo multi-étnico brasileiro.
A economia e a etnia foram citadas como divergências do povo brasileiro, as quais tornam complexa a definição de uma identidade nacional homogênea. Certos aspectos, porém, servem como auxiliadores nessa busca da identidade nacional. As convergências são, de fato, generalizadoras. Elas tornam comuns os hábitos e as preferências nacionais. O gosto pelo samba, a apreciação da cerveja e a fascinação pelo futebol são convergências nacionais. Ser um brasileiro genérico é compartilhar um pouco dessas culturas. São essas preferências superficiais que ensaiam traçar o caráter brasileiro, pois, na essência, é preciso mais igualdade no Brasil para tornar os fenômenos sociais menos divergentes e, assim, poder definir o real caráter brasileiro.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Nostalgia sem razão



(Pensamento filosófico, ou seja, para apenas ser refletido. Ou melhor, para apenas nada...)


Qual é o segredo do passado?
Às vezes, desejo viver o passado
Viver um passado que não foi meu
Sinto até nostagia dele

Revolução, guerra e liberdade
Passado de conquistas humanas
e de tragédias desumanas
Havia movimento nele

Fluxo de idéias, atitudes decisivas
Ah, como eu queria estar lá
no momento exato da mudança
do choque entre o novo e o velho

O presente precisa se mexer
Precisa ser refutado
Chega de ciência, de razão
Eu quero é filosofia!


(Pensamento filosófico. Ou seja, para apenas ser refletido. Ou melhor, para apenas nada...)



I just wanna satisfaction...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Isso é Rock?


Foi isto que Luciano me perguntou: "Isso é rock?" (não reparem a bricandeirinha ocasional com os pronomes). Num domingo do mês passado tocamos no Dubliners Irish Pub, lá na Barra, e ele foi ver o nosso show junto com outros amigos e amigas nossas. Mas, para assitir ao nosso show, eles e nós, também, tivemos que assitir a várias outras bandas que tocaram antes da nossa - pois é... Nós ainda não tivemos a oportunidade de tocarmos sozinhos e de, quanto menos, ganhar para isso. O fato foi que, durante o show da banda antecessora à nossa, Luciano foi me ajudar a pegar a guitarra e acabou fazendo aquela pergunta sarcástica.
A cena underground do Rock soteropolitano é produtiva. Mas, quando se trata de bandas novas com integrantes novos também, a cena é deprimente - exagero -, ou quase isso. As bandas não têm técnica, educacão muscical e, nem sequer, objetivos com a música. Elas se preocupam mais com a aparência que o som, com a quantidade de "fãs" que o repertório e com a platéia mais que a harmonia da banda. Outra observacão é o fanatismo por shows, por fazer shows. Têm umas bandas iniciantes que fazem mais shows que ensaiam. É isso que eu digo, e escrevo: falta objetivo com a música, caramba!
Rock para mim não é gritar no microfone, lotar a casa de show nem solar durante dez minutos com uma linda guitarra. Rock é som bom, é música com vigor e atitude, é estilo!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Guitarra e supermercado




Há uns dias atrás fomos ensaiar no estúdio de Rafael, dentro do “nobre” bairro que é a Pituba. Cheguei mais cedo que todo mundo, mais cedo até que o próprio Rafael, o dono do estúdio. Estúdio trancado. Domingo. Rua vazia. Tudo fechado. Nada aberto para um jovem guitarrista à espera de um ensaio que iria começar a meia hora. Eu, com a guitarra na mão e mochila nas costas, não tinha como ficar sentado no meio-fio. Sabe como é a violência... Ainda mais nessa época do ano, em que a carência econômica grita ainda mais por causa do carnaval. A segregação que há nessa festa desperta em todos os segregados a vontade de entrar, também, no camarote do Othon – vestindo aquela roupa nova que compramos só para o carnaval -, de vestir o abadá do Camaleão e de, até mesmo, bancar uma viagem para longe da folia.
Pois é. Tinha um supermercado, que era o único local aberto na área. Fora isso só tinham lojas trancadas e protegidas com grades metálicas e condomínios com suas guaritas e câmeras para assegurar a proteção dos moradores. Senti-me como um excluído, então corri para o supermercado. Fui para o fundo dele, sentei-me e coloquei a guitarra no chão (foto acima). Foi aí que o assunto do carnaval voltou a ser questionado. Após ter tocado na rádio Madeilene Peyroux e Audioslave, a monofonia do Axé deu o som da desgraça no local.
Pessoas saqueiam e gastam dinheiro com roupas novas, maquiagem, cabelo, camarote e abadá para ouvirem Axé o dia inteiro durante sete dias? Não, não. Acho que ninguém faz isso simplesmente para ouvir Axé. É convenção. É padrão. Está na semiótica do baiano participar da folia carnavalesca. É que nem o lema do Festival de Verão: “Eu, você, todo mundo lá”.
Bem... Saindo do supermercado, fui ensaiar com os caras. E lá estávamos nós, tocando Rock em Salvador.


Obs.: Não quero que ninguém saqueie alguém para ir a nenhum show de Rock aqui em Salvador, quanto menos no nosso que será domingo, no Irish Pub (Barra).

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ninguém é de niguém!


Na passagem das ultimas décadas, o sexo teve uma abertura nas mentes dos jovens. As jovens, principalmente, tiveram os seus medos com relação aos mitos do processo sexual esfacelados. A perda da virgindade não é mais um assunto cerimonial. O primeiro beijo na boca não é tão significativo quanto antigamente. A submissão das mulheres com os homens não está mais evidente. A mulher se emancipou. A mulher ganhou voz, ou melhor, gozo. Mas toda vez que a gente ganha algo, a gente perde outro. Será mesmo que essa liberdade sexual trouxe apenas benefícios?
O feminino e o masculino perderam amor nas relações. A materialização do ser humano é um reflexo da perda amorosa entre os casais. De que vale ter independência e liberdade sexual se o amor está sendo posto a escanteio? Com certeza, elas foram usadas de forma equivocada. Desde quando ter independência sexual é desrespeitar o sentimento alheio? A traição é um dos grandes exemplos dessa falsa independência. Não que ela só exista por causa desta. Até porque a traição existe desde o tempo de meu tataravô. Hoje, porém, ela é mais explícita e – pior de tudo – é justificada. As desculpas para a traição, o chifre, o adultério é justamente ela: a independência sexual. Dá nojo ouvir que a desculpa para a traição é: “Ninguém é de ninguém! Chega de prisão. A época de namorinho de portão já era!”.
Nem como antes, nem como agora. Enquanto no tempo dos nossos avós o sexo não tinha abertura, hoje, no nosso tempo, ele se escancarou e se abriu de vez à materialização e ao desrespeito das relações entre casais. Mais uma vez liberdades e independências foram usadas de maneira grosseira, radical e equivocada na história do país. Dessa vez, porém, elas atingiram o sentimento mais precioso: o amor. O que era de enorme proibição no início do século passado, hoje é banal. Falar sobre sexo atualmente é comum – tão comum que chega a perder o encanto. O excesso de instrução sexual – incluindo dicas, posições e preliminares – em revistas é medonho. O assunto é transar e saber como transar. Com quem e com que vontade, não importa. O amor? Ah, nisso não se fala.